Comentários ao episódio How China Captured Apple do podcast Honestly com Bari Weiss.
O viés anti-china interfere na visão deles em vários pontos, mas as informações são bem úteis.
- Enquanto os EUA planejava sua indústria baseada em lucro, a China buscou controlar a manufatura no mundo e controlar as matérias-primas, estabelecendo negócios em países na África para monopolizar o acesso a metais importantes e desenvolveu os meios para beneficiá-los;
- Ela teria uma população flutuante entre 300 e 500 milhões de trabalhadores que são transferidos de fábrica em fábrica a cada dois ou três meses e treinados para dominar os processos de manufatura;
- Sem alternativas, a Apple investiu muitos bilhões de dólares em máquinas e treinamento na China, mas não só ela; a Apple é apenas o maior exemplo, uma empresa que faz investimentos de tal grandeza que encontramos exemplos apenas em planos econômicos de países;
- A Apple também é uma empresa incomum, pois, em vez de criar uma linha de produção que pode ser automatizada, ela faz mudanças no design dos seus produtos todo ano. Somente a força de trabalho da China tem condições de atender a essa demanda;
- Segundo eles, somente um estado totalitarista poderia submeter a população e seus trabalhadores às condições necessárias para criar o volume de aparelhos necessários para atender demandas globais;
- A visão para médio e mesmo longo prazo não é boa para os EUA, que deve perder a posição de principal economia.
Tem muito mais no podcast. É recomendável escutar.
Onde vejo problemas é na análise superficial da China e também é meio irônico, já a mais de 100 dias sob a direção d Trump, criticar o estado totalitário e vigilantista dos outros.
Existem diferenças profundas entre o capitalismo tecnofeudalista e individualista dos EUA e o capitalismo chinês, muito mais preparado para fazer planos com décadas ou mesmo séculos em mente (o que chega a ser citado superficialmente no episódio).
Sei pouco sobre a precariedade do proletariado na China, mas no ocidente a precarização também é crescente, ainda que por outros métodos e isso são questões paralelas na minha opinião: uma coisa é a luta de classes, a busca por uma sociedade igualitária e justa, outra são as estruturas de distribuição e manufatura de produtos.
Para ficar claro: pode ser melhor para o planeta aproximar a produção de matéria-prima e mão de obra e construir uma malha logística que leve os produtos de forma sustentável a outras regiões. Isso não impede que as condições de trabalho sejam reestruturadas com vistas nos direitos e bem-estar dos trabalhadores.
No entanto, uma coisa fica martelando:
- A Apple adotou um modelo de criação de produtos que só funciona submetendo pessoas a condições de trabalho sub-humanas?

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