Hoje o Wall Street Journal anunciou que o ator e comediante brasileiro Marcelo Tas havia firmado contrato com a Telefônica para falar dos seus serviços 20 vezes por mês. A reação na tuitosfera foi imediata dividindo-se entre os contra e os a favor.
Este já teria sido o primeiro tweet pago:
Encontro #xtreme foi divertido, informativo e cheio de insights. Pela parte que me toca, obrigado a todos pela presença. Adorei!
Estou entre os contra.
Marcelo Tas aparentemente também.
Poucas horas depois do início do burburinho ele tuitou:
Texto do WSJ gera ruído delirante: este twitter NÃO é pago para falar bem nem da Telefonica nem de ninguém. Volto já. link
Porque Marcelo Tas se apressou em dizer que ele não vende a opinião dele apesar de ter recebido quase 100 novos seguidores (chegando a 18.650) em poucas horas?
Porque Marcelo Tas faz rir, mas não é bobo.
Ele provavelemente sabe que os tempos da celebridade vazia que conquistava prestígio somente aparecendo na TV está terminando. A cibercultura tem sede de conhecimento e o prestígio é medido por originalidade e autonomia.
Há defensores do mercado de opinião, mas suas afirmações mais frequentes são
- Se me pagarem para escrever eu aceito
- O blog ou Twitter é de cada um para fazer o que quiser
Mesmo para quem defende a compra de opinião será que ele dá o mesmo valor para a opinião comprada do que dá para a que, pelo menos aparentemente, é autônoma? Duvido.
Resolvi tuitar satirizando e exemplificando a situação:
Claro! Você faz (Aquárius destrói o meio ambiente) com seu Twitter (Beba água aquários) o que quiser! Segue (Big Mac) quem quer 19/3/09 15h46
Quem optar por vender sua opinião andará sobre uma traiçoeira corda bamba afinal só pagam por sua opinião porque seus seguidores o respeitam, mas até onde esse respeito se manterá? Qual é a maneira certa de fazer isso? Como no post acima?
“As pessoas seguem o Marcelo Tas porque gostam dele” me disse uma amiga no Gtalk, mas quando vendemos nossa opinião quem fala somos nós ou a empresa que comprou nossa voz?
Será que nosso seguidores querem nos ouvir dizendo “Tomou doril a dor sumiu”? Para ler isso eles ligam a tv ou abrem uma revista.
Há pouco tempo houve uma vasta polêmica em torno do Zeca do Pagodinho que fazia propaganda de uma cerveja e recebeu uma oferta maior para anunciar outra. Imagine isso no Twitter ou em um blog.
Hoje você vê um post ou tweet “O iPhone é o melhor smartfone” e amanhã a mesma pessoa publica que se decepcionou e agora só usa telefones Nokia. É verdade ou ela recdebeu uma proposta melhor?
Todo comércio é lícito, a prostituição é uma atividade que defendo com unhas e dentes pois não vejo qualquer problema moral nela, o corpo é da pessoa para fazer o que quiser.
O mesmo vale para a opinião, mas você deve deixar muito claro que sua opinião é prostituta, definir os princípios éticos da sua prostituição e seguí-los rigorosamente. O custo para um erro é a desvalorização do valor da sua opinião no mercado até talvez o ponto de não haver mais procura por ela.
Estamos justamente no momento para definir essas regras e será muito interessante assistir o desdobrar do caso com o Marcelo Tas.
Enquanto escrevi esse post @marcelotas ganhou mais cem seguidores, é bem provável que a tuitosfera esteja se reunindo para assistir e dar seu veridicto ao final. Veremos…
… Atualizando umas 6 horas mais tarde…
Marcelo Tas publicou em seu blog a explicação do caso Xtreme Telefônica.
Posso estar me precipitando, mas eu diria:
- Apesar de ser profissional de mídia que costuma ser contratado para fazer comerciais o Marcelo sentiu a necessidade de se justificar. Isso pode demonstrar o crescente valor da opinião imparcial
- As reações na tuitosfera também indicam uma considerável rejeição à venda de opinião, mas não tenho eventos anteriores com que comparar para apontar uma tendência para o futuro apesar de arriscar que a rejeição vai aumentar
- Durante o evento houve uma redução na taxa de novos seguidores de acordo com o TwitterCounter, mas vejo que ele parece já ter recuperado a taxa anterior. Vale a pena observar por mais alguns dias.
- Marcelo Tas agiu bem ao explicar o que não precisava explicar: o trabalho dele é ser contratado para fazer propaganda. Isso mostra que ele entende a diferença entre a imagem pública dele e a identidade pessoal que é o que se espera encontrar em um blog ou twitter.
Eu acho que sei uma resposta, mas quando vejo, nada sei!