Se você não faz idéia do que aquele “#” está fazendo no título desse post dê uma lida no que escrevi sobre Microblogging.
Acabo de chegar do evento Descolagem na Nave Oi.
O Descolagem é um evento mensal que segue mais ou menos a mesma proposta do ted.com: idéias que merecem ser multiplicadas, geralmente sobre as fronteiras do nosso conhecimento.
O tema dessa edição foi a escola do futuro.
Você encontra a cobertura ao vivo em texto no blog da @Maffalda.
No palco apresentando idéias tivemos a Patrícia Konder, o Paulo Blikstein e o Radfahrer que se apresentaram nessa ordem. Além deles teve o som do pessoal da Lens Kraftone que faz música com o Wii.
Na platéia um fervilhante debate simultâneo que mais da metade da audiência talvez nem tenha percebido que aconteceu e certamente não aproveitou.
Calculo que, das 200 pessoas não mais que 100 delas estavam comentando e acompanhando pelo Twitter, o restante eram professores, muitas vezes assustados como um que se levantou para perguntar sobre o fim da sua profissão agora que o aluno pode obter informação sem ele e do fim do toque já que nos comunicamos virtualmente pela Internet… Ele não leu a história do Gronk e da Gronka: nós humanos sempre nos comunicamos virtualmente! Mais à frente o Luli comentaria que Platão não gostava de livros pois as pessoas não se comunicariam mais e não produziriam conhecimento. Ridículo, mas não mais ridículo do que o medo da Internet.
Outro medo que me pareceu bem comum entre a platéia de @turistas (como chamo as pessoas que ainda não enxergam a Internet como uma rede de idéias e de pessoas) é a transformação da sociedade pela tecnologia! Gente! Leiam Pierre Levy! Ou o meu post sobre Cloverfield, tanto faz! Nós criamos essas tecnologias porque algo nos impulsiona a expandir as nossas capacidades de comunicação, integração e interação! Ou seja, foi a sociedade que mudou e criou as redes sociais digitais como o Twitter e os Blogs!
Ouvir a palestra da Susan Blackmore no Ted também ajudaria a esses professores desconectados que precisam urgentemente entender as transformações que estão ocorrendo ao redor.
A palestra da Patrícia foi conceitual, um brainstorm sobre a escola do futuro que teria brilhado se o debate online tivesse feito parte do processo, mas suscitou insights como a meta-aprendizagem ser parte do papel do novo professor e de como lidar com o fluxo avassalador de informação ou que a nova escola será totalmente diferente, não por ter paredes diferentes ou computadores em cada mesa, mas talvez por não ter sala, lugar no espaço ou no tempo.
A princípio odiei a segunda palestra (do Paulo Blinkstein) que era sobre pensamento computacional, as que não tocou nesse tema. Talvez ele tenha achado que as mentes ali eram lentas para os conhecimentos febris de Stanford e se limitou a dar exemplos práticos de trabalhos que ele faz que foram perfeitamente descritos pela @S1mone: Livro do escoteiro mirim na sala de aula!
No final das contas a palestra dele me deu a sensação de estar em um escafandro dentro de um ipotético mar de mercúrio em IO em vez da nave da Oi!
Felizmente o @Lebravo me chamou a atenção do cara ser o único ali que realmente colocava em prática algo que aponta rumos para o futuro e vamos combinar que o trabalho do cara é fantástico! Ele leva experimentos de robótica para alunos carentes até em Angola! Gente que se deslumbra com o conhecimento e a tecnologia e se tornam, como prova o email de um ex-aluno que ele mostrou, engenheiros de fato.
Também fiquei com uma má impressão do Paulo pois ele fez uma afirmação totalmente @turista: O pesquisador que quer sequenciar o genoma do tomate não entra no Google para ver se alguém já fez isso para copiar e colar, ele vai e produz.
Deu a impressão de que acredita que a Rede é uma massa de conhecimento antigo mofando… Ele definitivamente deveria ter aproveitado o tempo nos EUA para ir ao TED!
O pesquisador que não vai à Rede antes e durante sua pesquisa vai trabalhar sozinho e descobrir, desconsolado, ao publicar seu trabalho que um grupo de 389 pesquisadores espalhados pelo mundo trabalhando colaborativamente via Internet não só sequenciaram o genona do tomate como o adaptaram para ser plantado em Marte! Mais à frente o Luli falaria sobre o OpenSource…
Depois do Paulo teve música. Muito legal, dê page up ai e vá lá no Myspace dos caras!
A essa altura eu estava twittando obcessivamente! Lá pelo meio do evento cheguei a levantar a voz e perguntar “Só pode fazer pergunta ou pode opinar?”. Eu queria contar para aqueles 100 excluídos na platéia o que estava acontecendo! Que enquanto os caras falavam lá na frente expondo suas idéias (memes, estudem isso POR FAVOR) elas eram imediatamente reproduzidas, transformadas e entravam na ciranda de seleção natural (ou informacional) fazendo que o evento acontecesse multidimensionalmente!
Não deu para falar e por isso cheguei aqui tão “pilhado” para escrever esse longo post antes de sair para o #BOD (Bloggers on Dance).
Foi então que entrou o Luli Radfahrer, um sujeito famoso na blogosfera que no entando, tive a impressão, era um anônimo para boa parte das pessoas na platéia. Tenho que admitir que, como nunca tinha visto uma palestra dele, não entendia muito bem sua fama. Ah! Mais ai ele começou a falar tudo que eu e outros tantos estávamos berrando no Twitter sem sermos ouvidos. E falava na nossa velocidade, umas 10 vezes mais veloz que a Patrícia e umas 500 que o Paulo. Não só nos acordou como nos deu voz! O Beto Largman tinha razão em insistir pela presença dele!
Pena que a essa altura uns 10% dos @turistas tinham saído, perderam uma palestra que teriam que valeria 1000 Reais e foi grátis.
No final das contas creio que o @Lebravo disse bem: juntar as três palestras torna o evento absolutamente memorável.
Não dá para resumir tudo em uma palavra, mas eu me atrevo a dizer que um conceito permeou as três palestras, um que sempre defendo:
A escola do futuro se trata de consciência, senso crítico.
E já que falei tanto no debate silencioso online aqui vão alguns comentários:
- Rafaelfilos: e o questão ñ é linguagem do debate, mas o ponto dele. o Blikstein foi brilhante na liguagem e no trato da temática
- Claudiaruiva (assistiu online): Ok, educação do futuro é critério, é senso crítico. Mas o que temos no Brasil é o oposto, vide sistema de cotas.
- Alescar: discordo do Luli, qto ao professor. Não é fácil o prof mudar uma instituição enraizada….
- Alescar: apenas com a dica do Luli sobre o pai, descobri o nome do prof no Google..rs … 🙂 Prof. Celso Antunes, quase 200 livros!
- Deluca: “Idéias nascem a partir do diálogo, da troca”. Quase sempre das discordâncias, da argumentação.
Teria mais umas 50 dignas de nota, mas a idéia é dar uma noção de como uma palestra acontece no mundo real moderno e o que é uma desconferencia: quem só viu as palestras não teve acesso a muito mais do que 10% das informações e conhecimentos gerados à partir e ao redor delas!
Atualizando um dia depois…
Lendo a cobertura da Maffalda percebi que caí na armadilha do preconeito. Como o Paulo Blikstein se apresentou dentro de um estereótipo que transmite (ao menos para mim) idéias cimentadas e retrógradas, acabei pré-julgando e não vi algumas coisas boas que ele disse.
Além disso ele explicou sim o que é pensamento computacional: raciocinar fora das fórmulas encontrando soluções alternativas e criativas para problemas que antes só podíamos resolver com decorebas mecânicas. Nesse sentido tenho que retirar a minha crítica lá em cima sobre o pesquisador que não vai ao Google… Mas reafirmo que não se pode, em momento algum, esquecer de citar o poder colaborativo e integrador da Internet.
Outras repercussões
-
A escola do século XXI – descolagem – NAVE – Profa. Tati Martins
- Descolagem – Nave – A Escola do Século XXI – Final – Blogue e Física
excelentes os apontamentos e críticas.
uma breve discordância apenas quanto a palestra do Paulo. Para mim, foi a mais lúcida sensata e a mais coerente com a temática do evento. as demais me pareceram usar o evento para levantar outras bandeiras. não irrelevantes, obviamente, porém não em sintonia com a proposta (penso que faltou elas falarem do papel da tecnologia na educação, e não ficar chamando os professores de burros, medrosos e ultrapassados)
eu que acompanhei tudo a mais de mil km de distância, assino abaixo do teu texto =)
Opa Roney!
o
Sua separação entre onlines e @turistas, e também entre “professores assustados” e pessoal antenado porque estavam ejaculando opiniões em tempo real, sem reflexão e maturação (leia-se twitter) é tudo aquilo que o Radfharer destacou (o erro do absolutismo) há muito cinza entre este preto e branco que você vislumbra…
Sobre o twitter e sua (i)nadequação para coberturas em tempo real ou discussão, vale a leitura deste texto reflexivo da Lilian Starobinas.
Sobre o evento achei fantástico, as palestras e a ordem em que elas ocorreram.
Eu comentei bastante sobre as idéias na série de textos que fiz, dirante o evento no blogue e com minha reflexào final no último texto.
Só discordo do Radfharer quando ele afirma (só pode ser uma metáfora!) que a mudança só depende do professor! Falso, redondamente falso. O professor pode criar pequenas contra-hegemonais locais, mas para mudar a super-estrutura da escola é necessário uma ruptura (como disse a Prof. da Escola Parque) e esta precisa de vários agentes, como por exemplo, a sciedade… Repare que a simples aprovação de um piso salarial nacional ppara professores é difícil de ser aprovada e a sociedade passa ao largo da discussão.
A tecnologia, por si só, não dá conta da mudança… veja o NAVE onde a sala de aula, como visto no vídeo institucional mostrado, não rompe com as carteiras em fila proposta pelos jesuítas no séculoXVI.
Desculpe o comentário longo eu me empolguei!
abração
Olá Sérgiio!
Seu comentário não está longo, tudo que vc disse é útil e relevante!
A beleza da desconferência que se torna possível com o uso de ferramentas como o Twitter é que o pensamento espontâneo que se perderia pode ser compartilhado criando um tipo de caldo de memes. O que for uma tolice completa morrerá por seleção natural, mas outras coisas podem fomentar futuras reflexões e desenvolvimentos. E perceba que o Radfahrer estava acompanhando o Twitter antes de falar e usou os comentários para moldar um pouco do tom da sua palestra.
Com certeza temos que achar um meio termo entre o cibertio e o retrotio (ainda parafraseando o Radfahrer), mas a fronteira entre quem não faz idéia do que é a Internet e quem acha que faz existe e o encontro deles em eventos como o Descolagem é uma ótima oportunidade para que ambos os grupos possam se beneficiar das qualidades mútuas.
Vou ler o texto sobre o Twitter, mas logo de cara concordo que ele não é para cobertura de coisas em tempo real. Para isso tem o Cover It Live que a Maffalda.net usou para fazer a cobertura brilhantemente! Escrevi um texto sobre microblogging outro dia, vou reler para ver se mudei de idéia.
Seus comentarios estão ótimos mesmo, eu li e sugiro que quem passar por aqui clique ali no nome do Sérgio para ver o blog dele!
Concordo com sua discordância 😉 O professor pode fazer alguma coisa, mas ninguém pode fazer tudo. Ainda acho que, no século XXI, aprenderemos que a responsabilidade por nosso tempo é de todos nós!
O século XX foi o século do voto, de escolher quem nos representa, o século XXI, ao meu ver, será o marco de nascimento de uma hiperdemocracia onde podemos nos representar.
A fórmula para fazer isso sem criar um caos é o desafio que temos pela frente!
Opa Roney!
Pois é, o lance de soltar tudo que vem a mente e deixar a seleção natural depurar trás consigo o efeito coletaral da superdosagem de informacões.Por isto não gosto e não uso o twitter… as perdas compensam os ganhos 🙂
Acho que o maior medo do professor (ou seja, é uma especulação a partir do meu cotidiano) é que ele percebe que os desafios para esta nova escola e este novo professor fica somente nas suas costas… sem apoio institucioanal e da sociedade.
Ai muitos preferem sofrer com o “reme reme” de sempre a sofrer pelo novo.
Não estou fazendo um juízo de valor, só especulando! Em tempo, eu optei por tentar construir as contra-hegemonias locais… tem dores e delícias… como tudo na vida… e o pulo do gato e fazer esta construção coletivamente, interconectado nas várias redes que permeiam nossas vidas.
Concordo contigo que a rede sao de pessoas, a tecnologia é apenas a interface, uma das possíveis interfaces…
Muito legal estender as conversaç@oes por aqui… por isso prefiro os blogues ao twitter… a conversação é mais refletida e, sobretudo, mais rastreável…
Grande abraço
PS: Tenho umas idéias de “Fazendas de Blogues e Wikis” para professores, para catalizar a inclusão digital dos mesmos… num futuro não muito remoto a I4B pode ser uma parceira!
Roney, te vi blogando de lá, até ouvi a tua pergunta, não respondida. Também, você usava uma linguagem que só é destinada para autoridades instituídas… Para perguntas ou opiniões, só são concedidos 140 fonemas, sem réplica…
CtrlV+Ctrl C de todas as palavras do professor Sérgio, “Concordo contigo que a rede sao de pessoas, a tecnologia é apenas a interface, uma das possíveis interfaces…”
Estou gostando desse debate, se minha coluna permitir, ainda tento escrever mais sobre isso. Não sou @turista, mas também sou professora. São muitas outras sources (no sentido de fontes), ou não que estão em jogo. A tecnologia é belíssima, mas, no ensino, é preciso usá-la para estimular a inteligência, não o aprendizado superficial. Trabalho usando isso, é difícil pacas para dosar…
Oi Maria!
Fiz um comentário mooooonstruoso no seu post. Acho que temos que levar as pessoas ao seu blog e ao do Sérgio pois acredito que vocês tem contribuições muito mais importantes e urgentes a fazer do que as que eu tenho colocado aqui.
Vou aproveitar que estou respondendo vc e vou responder o comentário dele mais acima também.
Creio que a superdosagem de informação que o Sérgio comentou é um problema muito sério e temos que aprender não só a filtrá-la, mas também a não produzí-la como nos blogs que se limitam a copiar e colar músicas, boatos ou artigos de outras pessoas criando um fluxo inútil de informação.
Vc me viu lá e estava com a @clarinhagomes (quem não adora o blog Bichinho de Jardim?) e a @prill (eita moça de opiniões fortes!), mas não lembro do seu rosto! Espero que possamos conversar pessoalmente na próxima vez!
Minha esposa (além do Sérgio, mas a esposa sempre tem aquela última palavra que toca mais fundo) me convenceu que @turista é um termo que soa preconceituoso. Vou abandoná-lo pois essa nunca foi a minha intenção apesar de achar que todos nós devemos nos encaminhar para uma existência online intensa (sem deixar jamais de ser uma unidade de carbono que sobe em árvores e abraça os amigos). Passarei a chamar quem não vê a Internet como uma rede de idéias e pessoas de “pessoas normais”, apesar de “jardineiros da sanidade” talvez ser um termo mais justo! 🙂
Nós que abraçamos muito ansiosamente a tecnologia cometemos muitos erros com certeza! Mas eu os citei lá no seu blog (no post que linkei mais acima) e convido quem passar aqui para dar um pulo lá e ver também as excelentes considerações da Maria.
Gostaria no entanto que vcs (Sérgio e Maria) colocassem aqui mais um pouco do que vcs escreveram lá nos seus blogs para manter aqui um registro do ponto de vista, mais ou menos, oposto ao meu, certo?
Só estou sugerindo que as pessoas leiam o que vcs escreveram pois acho que vcs estão tocando em pontos muito mais urgentes do que os exercícios de futurologia a que me dedico aqui.
Opa Roney e MC!
Então, respondendo um pouco ao seu chamado e reforçando a MC a tecnologia pode criar facilidades, pode “catalizar” as mudanças… mas só a tecnologia não dá conta de todas as etapas que a Escola precisa passar para se adequar a Era da Informação.
Torná-la esta ” plataforma para se aprender” é uma tarefa hercúlea que só os professores, por si só, não podem realizar.
Mas a percepção de que a Escola de hoje não nos atende mais já é um grande avanço 🙂
abração
Palestras ou falas do #Descolagem 3:
Radfahrer 1: http://vidgal.videolog.tv/video.php?id=388297
Radfahrer 2: http://vidgal.videolog.tv/video.php?id=388031
Radfahrer 3: http://vidgal.videolog.tv/video.php?id=388314
Radfahrer 4: http://vidgal.videolog.tv/video.php?id=388339
Radfahrer 5: http://vidgal.videolog.tv/video.php?id=388346
Radfahrer 6: http://vidgal.videolog.tv/video.php?id=388362
Mais algumas repercussões que merecem ser lidas:
Pat Haddad: http://www.patriciahaddad.com/?p=933
Nepomuceno: http://cnepomuceno.wordpress.com/2008/11/24/o-sistema-quer-uma-nova-escola/