Recentemente o Nepô tuitou um artigo onde um especialista fala que até os joguinhos mais populares da Internet causam dependência.
Será que os jogos são perigosos? Nos fazem abandonar a vida real para encontrar a satisfação virtual?
Para inspirar mais reflexão (e susto) tenho que lembrar do casal da Coréia do Sul que deixou seu bebê morrer de fome enquanto criava uma filha virtual.
A reação mais comum é um alerta de emergência contra os jogos, esses demônios que transformam nossas vidas reais e felizes em algo triste e sombrio. Já falei sobre isso em um post há um ano e meio, mas ali falava dos monstros da tecnologia da informação.
Em tudo isso há uma constatação fascinante ainda que desagradável: O impulso cognitivo (memético) facilmente nos leva a abandonar as necessidades físicas (do corpo de carbono) para servir à reprodução, cópia e evolução da informação.
Por um lado é fantástico notar que estamos cada vez mais influenciados por nosso aspecto cognitivo e menos pelo instintivo. Estamos amadurecendo.
É claro que no processo há exageros como o citado acima, no entanto, mais uma vez creio que os especialistas não estão respeitando a regra dos 90 segundos antes de deenvolver suas premissas.
Tenho o costume de perguntar às pessoas: você gostaria de viver 300 anos com saúde e juventude?
Surpreendentemente a enorme maioria não quer. Suas vidas são pesadas e a perspectiva de ter que lutar 300 anos para ganhar dinheiro, agradar o chefe, manter o emprego e preencher as expectativas ds sociedade é um peso que produz um olhar arregalado e assustado.
As pessoas não estão fugindo para uma vida virtual melhor, estão fugindo de uma vida real que elas não suportam e não acreditam que podem mudar.
Vale lembrar que a vida real é apenas fisicamente real visto que real é a montanha, o rio, a caverna, a comida, a brincadeira (de correr e brigar provavelmente) e o sexo.
Todo resto é criação cognitiva. Não importa se é de tijolos ou de bits: é virtual.
Há outras formas de ver os jogos:
- Um ambiente para exercitar a percepção de que sucessos são possíveis
- Um espaço onde podemos projetar soluções simuladas para problemas reais
- Exercício de socialização para quem já não encontra pessoas offline em quem confiar
- Instrumento para construir grupos auto-estimulados para resolver problemas em contraposição com o ambiente de trabalho comum marcado pela competição individual
É imprescindível assistir a apresentação Gaming can make a better world da Jane McGonigal no TED:
Temos sim que vencer o desafio do vício, mas o caminho para isso não é evitar jogos, Internet ou em muitos casos, nem mesmo o copo de cerveja, mas sim construir uma sociedade offline e online onde gostaríamos de viver por 300 anos. E os jogos são um dos melhores instrumentos para exercitar as habilidades que precisaremos para cumprir essa fantástica campanha!
Oi Roney,
Sou tradutora e e-amiga da Claudia e apaixonada por jogos de RPG online, que jogo com meu marido (apesar de ultimamente não ter muito tempo). O primeiro jogo que joguei me ensinou coisas da vida e para a vida real que eu nunca consegui aprender na vida real, entre elas algo bem básico: coragem. Acredite se quiser! Coragem para falar o que pensa, coragem de enfrentar desafios, coragem de encarar medos. Além disso, nos jogos de RPG sempre há a questão do trabalho em equipe que é bem interessante, pois vai desde ter que formar uma equipe – e daí pensar em quem chamar, chamar propriamente as pessoas e levar algumas recusas – até a ação pretendida. Enfim, sou a favor dos jogos e espero que minha filha que chega em julho goste deles. Mas… nada de ficar o dia inteiro no computador, outdoor living is essential too!
Cheers!
Olá, Roney. Sou aluna da Graça Taguti e assisti o video que fizeram juntos. Obvio que meus olhos saltaram quando vc falou de wow. Quem joga sabe como ele passa a ser importante na sua vida. Então, resolvi googlar sobre vc e wow. Achei seu texto.
Eu me vejo no que vc diz:
“As pessoas não estão fugindo para uma vida virtual melhor, estão fugindo de uma vida real que elas não suportam e não acreditam que podem mudar.”
“Exercício de socialização para quem já não encontra pessoas offline em quem confiar”
O mundo não parece mesmo nada agradável. Vc estuda, trabalha, namora, se responsabiliza, se locomove, limpa, cuida, organiza, vende, compra, ajuda….e cansa. Cansa muito.
No fim do mês parece que nada daquilo foi gratificante. Que as pessoas ao redor são muito chatas e difíceis de lidar. No mmorpg, vc mostra o que quer de vc, da sua vida. Nao tem invasão. Não importa qual seu salario, se vc é bonito, onde vc mora. Importa o que vc é. E quando o que a pessoa é te causa angustia, basta ficar offline, sair dali. Bloquear aquela personalidade incoerente com vc. Mas…da vida real nao da pra fugir, não tem offline, não basta ignorar todo mundo que não serve, não tem nada de fácil. Social illnes.
Se posso ser mais feliz fora da sociedade “fisica”, por que vou querer participar dela?
Como diz o Edd Motta: “Dia apos dia, ouvia sua vó lhe falar. O mundo é fabuloso, o ser humano que não é legal”
Se o ser humano do dia a dia não fosse tão complicado e desinteressante, talvez eu desse uma chance a ele.
Olá Clarissa!
Esse é um território delicado que pode nos levar ao enfraquecimento dos laços sociais, mas não acho que os jogos digitais sejam o grande vilão, são apenas a forma mais recente de interação que pode ser usada tanto para aprofundar relações quanto para torná-las superficiais.
Antes dos jogos a gente já separava nossos contatos em caixas: pessoas do colégio, pessoas do trabalho, da academia ou de um determinado point. Se as coisas ficam ruins a gente pode fugir.
Aliás esse é um assuto vasto para um comentário e preciso pensar melhor sobre ele.
Só acho que no final das contas a gente precisa descobrir meios de trazer para offline o que há de melhor online… Tenho a impressão que as pessoas são más offline não por serem aquilo de fato, mas por acharem que devem agir daquele jeito e muitas vezes online é que elas se mostram como realmente são.
É, eu não vejo os jogos como vilões. De jeito nenhum. Vejo como a salvação. A fuga de algo que eu não gosto muito – a sociedade atual.
Talvez tenha razão quando fala que as pessoas não são tão ruins como demonstram no offline.
Porque eu vejo o ser humano de hoje em dia muito falso na vida offline. Dificil ver alguém sincero, que mostra sua verdadeira personalidade. E isso também existe no online. Eu acho que não há tanto esses distinção – pessoas online são boas e offline são más ou vice versa. A sociedade anda numa fase de hedonismo extremo e não há como isso dar certo. Se o cara SEMPRE precisa se sentir bem, ele tende a SEMPRE passar por cima de todos os outros para conseguir isso. E não há prazer eterno. Então quanto mais busca, mais precisa ter.
Em geral, não confio nas pessoas off nem online. Mas como eu falei acima, online você descarta todo mundo. Você muda com mais facilidade. Já offline não é tão simples descartar.
Ontem eu era do seu grupo de avaliação da faculdade, e hoje eu não olho mais para sua cara porque descobri que não gosto de varias coisas em você?
Complicado.
Por isso jogar é tão bom e me faz tão feliz. ^^
Eu converso, faço piadas, discuto pontos de vista e quando encontro uma personalidade desagradavel, descarto. Sem medo de como vai ficar a reputação ou de quantas fofocas vão fazer sobre mim.
😉
Compreendo totalmente o argumento da Clarissa. Passei muito por isso e isso se extremou quando em uma determinada época pouca coisa da minha vida offline permaneceu interessante.
Acho o mundo online um ótimo escape e esse hábito humano não foi criado nem surgiu com ele. Isso é coisa antiga, no máximo evoluiu. Temos diversos exemplos de escapes como a TV, os livros, uma banda de música, o trabalho excessivo e até o futebol, entre outros.
Utilizamos esses escapes para nosso entretenimento, que não mais servem para remover momentos de sofrimento da nossa vida. Sofrimento isso não aquele drástico, mas o cotidiano. Falo do papel humano de cumprir com responsabilidades 24 horas por dia, seja profissional, a de pai, a de filho, a de amigo.
Ótimo assunto para se discutir, Roney. Grande abraço!