Ao longo dos últimos meses várias campanhas publicitárias tem agradado blogueiros para que eles falem dos seus produtos.
A Coca Cola deu geladeiras portáteis (para meia dúzia de latinhas) a vários blogueiros para que eles falassem do isotônico i9. Pena que não lembro de alguém ter aproveitado a ocasião para lembrar da polêmica exploração que a Coca Cola e a Nestlê tem feito em Poços de Caldas.
Esta semana a LG levou 16 blogueiros e twitteiros para um final de semana luxuoso para promover o celular Renoir. Cada um dos participantes levou um aparelho além dos dois dias de lazer.
Depois de cada ação deste tipo imediatamente surgem os dois grupos de “mimimis”: os invejosos que gostariam de ter sido chamados (onde me incluo “LG NA PRÓXIMA CHAMA EU!”) e os que se questionam a respeito da imparcialidade dos comentários depois de tanto agrado. Provavelmente o segundo grupo iria feliz caso fosse convidado (eu iria! “LG NA PRÓXIMA CHAMA EU!”).
Em termos de publicidade a verdade é que isso não importa.
Se o produto é bom e houver um hipe em torno dele as pessoas vão gostar do produto, vão comprá-lo e vão indicá-lo. Se o produto é ruim não importa se o hipe foi positivo ou negativo, o produto fracassará.
Temos que lembrar que poucos brasileiros são twitteiros ou blogueiros, a maioria transita pela estreita faixa continental da Internet: Orkut, Chat, email e buscas no Google.
Estes usuários vão cair nos posts sobre o LG Renoir e vão se animar com o produto sem se importar que tem um monte de blogueiros (0,0000000001% dos Internautas) irritados com a LG e/ou com os convidados.
Apesar disso eu não gosto deste tipo de campanha. Creio que ela é fruto de uma visão trata a digitosfera (blogs, sites, twitter, comunidades e demais meios digitais onde circulam idéias, imagens, vídeos, podcasts etc.) como se fosse a mídia antiga.
Nessas ações vemos grandes empresas recompensando ou agradando de alguma forma uma forma de mídia. Se fosse uma revista elas pagariam uma propaganda. Sempre foi comum também chamar jornalistas para grandes eventos com salgadinhos e outros luxos para apresentar seus produtos. Por muito tempo isso foi normal e simpático.
De uns 20 anos para cá isso começou a incomodar muita gente. Lembro que há uns 7 anos a Apple deu vários iPods para jornalistas e muita gente chiou.
Creio que isso é reflexo de uma das grandes causas da existencia da Internet como é hoje: Não queremos mais nos sentir números na multidão. Queremos sentir que nossa voz pode ser ouvida. Então uma voz fala dentro da nossa cabeça “Porque o jornalista ganhou o iPod e não eu?”, “Porque a empresa está mimando aquele blogueiro e não a mim?”.
Neste exato momento as campanhas que paparicam as pessoas mais inseridas nas bolhas de celebridade da Rede (e até dá para tentar advinhar que agencia fez cada ação pelas pessoas escolhidas) dão certo pois a grande maioria dos consumidores mal conhece a Internet e saberá apenas que “O produto tal foi um sucesso porque todo mundo falou nele na Internet”.
No entanto acredito que a médio prazo (e cuidado com o que acontecerá na blogosfera brasileira agora que a novela terá um personagem blogueiro) as empresas devem aprender a se colocar não como algo acima dos consumidores, mas como mais um deles.
Hoje há várias pessoas no Twitter por exemplo que são representantes de empresas. Há uma para uma peça, outra para promover livros. Todos sabem que elas são partes de campanhas de marketing de alguma agência, mas cada uma delas se comporta estritamente como uma pessoa chegando a participar de amigos ocultos.
Colocar a empresa ao lado do consumidor, conversando com ele em pé de igualdade me parece uma necessidade inevitável nos próximos anos, ou meses… A velocidade das coisas online é imprevisível.
Roney,
Toda hora escuto esse argumento de que quem reclama é porque gostaria de ir ou ser convidado. Não é verdade.
Volta e meia, por exemplo, sou convidada (Aguarrás) por galerias e afins para almoços e outros mimos. Não vou. Não vou nem na vernissage. Meu olhar precisa ser crítico.
E te falo de todo coração, se a LG tivesse me chamado eu teria recusado. Você me conhece a tempo suficiente para saber que não é “média” minha ou desculpinha ou qualquer coisa assim. Eu não iria mesmo, assim como não vou nos que sou convidada.
Existe uma massa crítica na internet – da qual faço parte – de pessoas que não são mimimis, que questionam sim este tipo de ação e que, pasme, não estão com inveja e tampouco gostariam de estar naquele lugar/evento.
Eu acho grave. Acho um tiro no pé. E acho mais, acho que é orquestrado. Os blogs, como eram anteriormente, eram uma voz muito importante e ameaçadora contra este tipo de coisa e falavam, de forma muito clara e aberta, sobre os produtos que os marketeiros tanto se esforçam para inserir no mercado. A maneira mais eficiente de combater este tipo de “problema” é torná-lo cúmplice do vendedor. É uma coisa bem lobo mau mesmo. E eu não farei parte disso.
Meu blog tem um pagerank de 5 em 10. O Aguarrás tem 4 em 10. 5/10, por exemplo, é o pagerank do Carlos Cardoso e do Cris Dias. Portanto, é meio que fácil de concluir que eu também receba convites, certo? (o do LG não foi um deles, eu não falo de celular ou tecnologia)
Este tipo de aceitação do “mimo” é uma aceitação de uma conivência velada da qual a maioria dos envolvidos não se dá conta.
E, só para concluir, os tais jantares que eram promovidos aos jornalistas sempre foram outro tipo de evento. São (ainda existem) eventos onde os produtos são apresentados, existe uma conferência, tiram-se dúvidas e os jornalistas vão embora com, no máximo, um chaveirinho e uma caneta de lembrança. E, sim, alimenta-se os jornalistas que estão ali por 4, 5 horas. É uma press conference. É outra coisa.
E jornalista que aceita presentes caros (sim, o valor é uma questão) é conhecido no meio como um vendido, um cara sem idoneidade, etc.
Lembrei agora de um amigo nosso (meu e seu) que recebia equipamento para testar. Sem problemas. Como diabos ele poderia escrever algo sem testar antes?
Então, para citar o caso específico da LG, eu não veria nada de errado nos blogueiros receberem os aparelhos em si. Os mimos é que são um tiro no pé aceitar. Receber uma caixa de isotônico para experimentar é uma coisa, receber geladerinha e etc é outra.
E, novamente, como eu recuso esse tipo de coisa há anos, posso falar com propriedade de que não se trata de inveja ou mimimi.
Por favor não coloque todos no mesmo saco.
Oi Carol! Vc está comigo no segundo grupo que citei, o que entende que essa prática compromete a imparcialidade dos comentários. joguei o “chama eu” justamente como uma ironia em torno disso 😉
Falei pouco sobre isso pq decidi focar outra coisa no artigo e acabei não comentando que não recrimino blogueiros que aceitam esses agrados, só não confio na imparcialidade deles naquele assunto em específico.
Acho bom que esses agrados estejam acontecendo de forma pública o que nos leva a desenvolver um senso crítico em relação a cada blogueiro identificando os que prezam tanto por sua imparcialidade que não aceitam agrados e os que aceitam.
Há blogueiros inclusive que aceitam os agrados e eu continuo achando imparciais… Se algum dia uma conjunção cósmica inédita te levasse a um evento desses por exemplo eu teria certeza que vc seria imparcial, na verdade provavelmente falaria mais mal do que se não tivesse sido convidada! 😉
No geral concordo com tudo que vc disse, mas vc sabe que desastres naturais ocorrem quando a gente concorda plenamente, né? Então decidi discordar um pouco 😉
Não! Não! Não! Não! Mil vezes não!
Pelo amor de deus, discorde!
Não estou preparada para o dilúvio final, querido.
:*
Roney, muito lúcido o texto. Nada a acrescentar.
Também gostei do que Vigna-Marú escreveu.
E acho que os blogs perderão a imparcialidade que tanto nos ajuda a gritar contra certos produtos e empresas. Vemos blogueiros que eram muito críticos, sensatos, mas hoje elogiam isto ou aquilo, o que era péssimo virou o melhor serviço… Uma outra arma desses grandões é convidar a pessoa para escrever colunas em revistas. Por exemplo, se passo a escrever para a Windows Vista, como é que eu continuarei a escrever por aí contra o Windows Mobile, sistema operacional que eu abomino e sobre o qual falo contra em meu blog?
E assim… as pessoas se vendem…
Acho que blog nunca devia ter tido credibilidade. Tem um certo romantismo em torno de blogs como se fossem a opinião isenta de alguém.
Acontece que os alguéns não são isentos, nunca foram.
É claro que até pouco tempo ninguém pagaria a um blogueiro para dar opinião e essa “novidade” torna os blogs ainda mais suspeitos, mas acho isso bom!
Os blogs sempre foram suspeitos, só que a gente nem se tocava. Agora temos que nos perguntar: essa pessoa tá falando séria ou foi manipulada para falar bem desse produto?
Com isso paulatinamente aprenderemos a criar nossa coleção de blogueiros sérios que acreditamos que mantém sua opinião isenta mesmo que recebam dinheiro pelo blog de alguma forma.
Você por exemplo eu duvido que venda a sua opinião.
A internet não poderia ficar muito tempo longe da relação dinheiro/interesse.
Mas sempre haverá resistência.
É como eu disse mais acima, acho inevitável que haja oferta de grana para capturar o público dos blogueiros e a gente terá que aprender a identificar os tipos de pessoas atrás de cada blog. E isso é bom.