1º Passo no gerenciamento do conhecimento

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A gente precisa de leveza, a gente precisa de tranquilidade, a gente precisa de tempo livre e a gestão do conhecimento pessoal, antes de qualquer outra coisa, tem que servir a esses fins e não ser mais uma fonte de estresse, de esforço no caminho para a “produtividade turbinada” ou tantos outros termos que são quase epidêmicos como se produtividade fosse sinônimo de felicidade assim como um padrão estético fosse sinal de saúde.

Já falei um pouco nisso no post Por que gerenciar o conhecimento pessoal? Identificando alguns perfis de pessoas que guardam informações. Pode ser considerado o post zero dessa série.

Existem dois extremos: guardar tudo empilhado no mesmo lugar ou criar uma árvore enorme de pastas ou álbuns para classificar o que guardamos.

Os dois extremos são ruins. O primeiro é o mais comum e o segundo é o pior (e o que eu tenho que me controlar para não seguir).

Tem uma terceira ponta nesse triângulo, que é “guardar nada e buscar online toda vez que precisar”, mas esse é justamente o comportamento que sugiro evitar para construir uma relação tranquila e pacífica com o fluxo de dados, estímulos e informações.

Super classificação

Vou começar pelo pior.

Podemos sentir a tentação de classificar milimetricamente tudo que guardamos, seja com hashtags como ciência/exatas/engenharia/eletrônica/radio/transmissor ou com uma estrutura de pastas semelhante.

Isso torna o processo de armazenamento complexo, estressante e, pior, impreciso, porque algumas informações pertencem a mais de uma área.

Minha formação em gestão do conhecimento me tenta a seguir esse caminho e confesso que tenho, no meu sistema de gestão do conhecimento pessoal, uma reprodução da árvore das áreas do conhecimento de acordo com o CNPQ onde guardo alguns artigos e referências quando faço uma pesquisa específica sobre, por exemplo, fungos.

A recomendação aqui é criar árvores ou grupos de hashtags em muitos níveis apenas se for uma estrutura extremamente natural para você.

Digamos que seu hobbie seja a observação de pássaros, certo? Sua estrutura de classificação das suas observações pode ser uma complexa rede taxonômica/geográfica que só você, e outras pessoas com o mesmo interesse, entenderá.

Em geral sugiro parar no segundo, no máximo no terceiro nível. Algo como:

  • Adminstração
    • Imóveis
      • Imóvel tal
      • Imóvel outro
    • Reformas no apê
    • Contas pagas

Dentro da pasta “contas pagas”, por exemplo, podem ficar todas as contas classificadas com hashtag (apesar de que eu faço uma pasta para cada fornecedor de serviço como “Luz”, “Gás”).

O segredo é saber onde colocar cada coisa sem ter que pensar.

Por isso é recomendável ter uma “pasta para bagunça” ou, para não ficar feio, “Recursos” ou “Assuntos Gerais”.

Um método muito conhecido é o PARA, de Tiago Forte:

  • Projetos: Coisas em andamento. Pode ser um caderno de observação de pássaros do litoral brasileiro ou mesmo projetos para clientes caso você preste consultoria para muitas pessoas ou empresas
  • Áreas: Digamos que você seja médica. Pode ser interessante ter uma estrutura clara das áreas que você estuda e consulta regularmente. Serve para conhecimentos mais estruturados
  • Recursos: Na dúvida guarda aqui. Podem ser artigos sobre coisas interessantes, links para vídeos engraçados, link para um episódio de podcast sobre pressão alta junto com algumas anotações que você fez enquanto ouvia. É recomendável adicionar umas palavras chave, umas hashtags ao guardar
  • Arquivo: para coisas que foram concluídas, mas que é bom guardar, como projetos encerrados, dados de um apartamento que você já vendeu…

Mas, volto a dizer, o mais importante é que seja uma forma de organização que te permita guardar as coisas com o mínimo esforço e que seja intuitivo também na hora de recuperar.

Por exemplo, eu tenho uma pasta Diário com uma nota para cada dia desde fevereiro de 2023. Tive que começar um diário para lidar com a ansiedade que vinha sofrendo, coisas de tempo de pandemia, mídias sociais tóxicas e necropolítica. Também tenho uma pasta Lazer com três subpastas: Filmes, séries, livros. Cada uma delas tem uma nota com comentários sobre cada filme, série ou livro que assisto ou leio.

Mas esse monte de pastas, pra algumas pessoas é fonte de ansiedade e a meta aqui é justamente o contrário! Para muita gente o melhor jeito é guardar…

Tudo na mesma cesta

Quem tem menos de 40 anos cresceu com buscando as coisas no Google, que era tão eficiente que era mais rápido que achar no próprio caderno. Pena que, desde 2019, ele decidiu, para aumentar os lucros, piorar a qualidade das buscas.

Mas não é apenas no Google. Também nos acostumamos a achar fotos na nossa galeria de fotos dos celulares simplesmente digitando “Toby praia nublado”.

Se você for uma pessoa bem sagaz na escolha de palavras-chave (hashtags) o próprio buscador de arquivos do seu computador ou do seu armazenamento na nuvem (como o Google Workspace) darão bem conta de localizar o que você busca.

Ainda assim vou recomendar, pelo menos, separar algumas áreas em pastas. Talvez “Trabalho”, “Boletos”, “Lazer”, “Ativismo”.

E onde fazer isso?

Cada ferramenta terá sua tribo de animados evangelizadores, sou da tribo Obsidian. Tem ainda as tribos LogSeq, Notion, Zettlr, Joplin e muitos outros.

Mas, francamente? Faz onde for natural para você e possa ser facilmente salvo no seu computador ou num HD/SD externo. Pode ser até no Google Workspace apesar de eu ser um grande ativista do “degoogling”, ou seja, cortar tudo do Google.

O importante é começar a desenvolver o hábito de ter consciência do fluxo de estímulos e informações a que estamos expostas.

Ainda não sei se farei um post sobre ferramentas porque, para fazer bem feito, teria que usar cada uma por um bom tempo e acho que as pessoas de cada tribo farão um trabalho muito melhor que o meu.

O que posso sugerir é que você dê uma olhada nas principais ferramentas porque todas elas trazem enormes vantagens em relação a um Google Docs ou aplicativo de notas do celular.

Apesar de ser da tribo Obsidian, a minha sugestão é olhar os Free Open Source Software (FOSS) como o Joplin ou o LogSeq com carinho.

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Foto de Héctor J. Rivas na Unsplash


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