Vou dizer de novo: A Internet Social é a próxima grande revolução desde o início do século.
Opa! Opa! Espera aí! Estou falando de 2024 mesmo! E não estou me referindo às revoluções das redes sociais ou das mídias sociais, que já tiveram suas duas ondas na primeira e na segunda década desse século (teve uma antes nos anos 90, mas é pré-história).
Qual é o mundo hoje?
Existem várias plataformas comerciais sociais, sites… Vou chamar de instâncias, certo? Por que instâncias? Bem, porque não são simples sites, são instâncias de produção de conteúdo por pessoas, concorda?
Pois, então, atualmente nós temos que entrar na instância Facebook para ver nossos amigos, entramos na instância Instagram para ver fotos e vídeos curtos que nos entretém, entrávamos (nesse momento está bloqueado) no X-Twitter, no Bluesky ou no Threads para acompanhar notícias em tempo real e celebridades ou influencers.
É meio cansativo. Temos que entrar em diversas instâncias, lidar com os algoritmos que procuram absorver o máximo possível da nossa atenção e propagandas, muitas propagandas em alguns casos.
Se você não gosta daquela instância problema seu! Seus amigues foram para lá, você terá que ir também. Como está acontecendo agora com o êxodo do X para o Bluesky.
E a revolução?
E se a gente pudesse estar em apenas uma instância? Se ela não fosse comercial, ou seja, não tivesse algoritmos e propagandas e mantivesse o foco no social em vez do comercial? Se pudéssemos escolher qualquer tipo de rede como foto, microblog, vídeo e, a partir dela, pudéssemos seguir quem nos interessasse e as pessoas de qualquer uma dessas redes pudesse nos seguir de volta, interagir com a gente como se estivéssemos na mesma rede?
Na prática: é como entrar, digamos, no Facebook e ver na sua timeline os posts de pessoas que só publicam no Bluesky, no Mastodon e até mesmo em um blog. Tudo funcionando como uma grande rede social só.
Em tempo: o Facebook não se integrou ao restante da Internet Social, mas criou o Threads, que se integra. O X-Twitter também não se integrou, mas foi dele que saiu o Bluesky, que também pode se integrar. O Flipboard anda em passos largos para fazer parte disso.
Certo. Qual seria, então, o tamanho da Internet Social?
Estou chamado de Internet Social apenas os sites e redes capazes de se integrar, certo?
Começando pelos ramos comerciais: Os usuários do Threads, 200 milhões de contas, podem clicar um botão e integrar suas contas à Internet Social. O Bluesky diz estar em torno de 8 milhões, mas talvez absorva a maioria dos 40 milhões de usuários que estavam no X-Twitter e ele pode se integrar ao restante da Internet Social porque usa uma linguagem aberta (protocolo é o nome técnico).
Partindo para a Internet Social livre e não comercial, o nome mais conhecido é o Mastodon, que é um microblog como o Twitter, e tem em torno de 15 milhões de usuários distribuídos por cerca de 10 mil instâncias, mas essa história de instância só complica a cabeça das pessoas e na prática é tudo uma coisa só.
No entanto microblog é apenas um tipo de instância social, concorda? Um blog como esse também é uma instância social.
Todo blog ou site que funcione com o WordPress (43% de todos os sites da Internet) está apto ser uma instância nessa Internet Social.
Existem ainda muitos outros tipos de instâncias sociais: para livros (BookWyrm), fotos (Pixelfed), vídeos (Peertube), agregadores de links (Lemmy).
Talvez você esteja suando frio e pensando que são dezenas de novas redes sociais para você entrar, mas é o contrário: Você só precisa estar em uma delas e, dali, pode seguir e ser seguida por outras pessoas, pode comentar, curtir e reponder qualquer coisa em qualquer uma dessas redes!
Sei que já disse isso, mas vejo tanta gente ficar perplexa com a ideia e demorar a entender que achei por bem repetir!
Uma pessoa na instância bolha.photos, que é uma instância tipo Pixelfed/ Instagram, pode seguir, comentar, repostar, curtir e receber comentários (e vice-versa) por outra na instância bertha.social, que é um microblog como o X-Twitter ou o Bluesky.
Uma pessoa qualquer em toda a Internet Social pode seguir @roney e as publicações daqui aparecerão na timeline dela. Esse blog é uma instância social, como um Bluesky ou um X-Twitter.
É isso mesmo! Sou dono da minha própria rede social! Muahahaha (leia com a voz da Toph Melon Lord)!! O todo poderoso… Pera… Na verdade qualquer pessoa que possa separar uns 20 reais por mês pode ser dona da própria rede social integrada a todas as outras do planeta!
Essa é a revolução.
Isso já existe.
Você está na Internet Social nesse exato momento!
O tamanho da Internet Social pode ser o tamanho da Internet!
O que é possível na Internet Social?
Isso tudo parece muito confuso, mas eu quis dar uma ideia de como as coisas funcionam. Na prática é muito simples e abre uma infinidade de possibilidades!
Cenário um: Coletivo Social
Em muitos casos os coletivos sociais acabam encontrando um espaço hostil nas plataformas comerciais transformadas em campos de batalha política. Os algoritmos também podem simplesmente decidir que aquele conteúdo não atrai negócios para a plataforma tornando-o invisível.
Ao criar uma instância social própria na Internet Social o coletivo passa a ter um porto seguro onde pode ser seguido sem interferências por todas as outras instâncias.
Mesmo sem criar o próprio espaço na Internet Social o coletivo pode se juntar a outros preexistentes, como uma instância dedicada ao meio ambiente.
Caso aconteça alguma coisa com a instância, ou se o coletivo considerar que é hora de manter a própria instância, ele pode simplesmente se transferir para outra mantendo todos os seguidores.
Por exemplo, se o X-Twitter e o Bluesky fossem parte da Internet Social poderíamos simplesmente fazer a transferência entre as duas instâncias e todas as pessoas que nos seguiam no primeiro veriam que automaticamente agora estavam nos seguindo em nossa nova casa online.
Cenário dois: Órgãos Governamentais
Governos não deviam ceder os próprios meios de comunicação a terceiros. Fim do cenário.
Tá, vamos desenvolver.
Os governos usam as estruturas de comunicação da TV e do rádio, mas elas não tem algoritmos que filtram as transmissões.
Ao usar uma plataforma comercial social mediada por algoritmos como via de comunicação com a população o governo está sujeito aos algoritmos dessa plataforma que podem esconder a comunicação ou, o que muitas vezes é pior, modular o contexto em que ela aparecerá alterando assim o efeito da comunicação, que pode passar a refletir negativamente para o governo.
Por outro lado, se o governo mantém seu próprio servidor social, capaz de se comunicar com todos os outros, ele tem a garantia da comunicação sem ruídos.
Uma pessoa em qualquer rede social pode seguir, pro exemplo @SUS@social.gov.br segura de que receberá todas as publicações daquele perfil e que é um perfil oficial e sem interferências da iniciativa privada.
Cenário três: Mídia e Jornalismo
Depois dos governos provavelmente as mídias jornalísticas são o grupo que mais precisa da Internet Social.
Os leitores podem seguir, por exemplo, @editorial@jornalreal.com.br ou @internacional@jornalindependente.com.br com a certeza que as publicações serão entregues. Os jornais também podem inserir os links que quiserem, estimular assinaturas, fazer campanhas de financiamento coletivo, inserir anúncios, fazer pesquisas de opinião sem receio de serem punidos por algoritmos, invisibilizados ou mesmo banidos da plataforma… Sem falar que as plataformas em si podem ser banidas ou simplesmente se extinguir jogando fora anos de trabalho construindo uma audiência lá.
Mas talvez a maior vantagem seja estar no controle da narrativa das notícias e da imagem da empresa.
Cenário quatro: Site Pessoal
Há muito tempo as pessoas desistiram de compartilhar links para os seus sites nas plataformas comerciais sociais porque elas não gostam que os cativos, digo, os usuários, sejam direcionados para fora das suas cercas.
Mesmo evitando links não há nenhuma garantia de que o tema importante que estamos compartilhando terá eco.
Pouco antes do X ser bloqueado no Brasil era possível verificar o alcance reduzido de contas com muitos seguidores que falavam em temas como meio ambiente, cultura ou bem estar social enquanto postagens carregadas de violência feitas por contas com meros 400 usuários tinham alcance na ordem de 300 mil visualizações (exemplo real, eu vi).
Os sites pessoais, que podem ser transformados facilmente em servidores da Internet Social, podem ser seguidos por pessoas em todos os outros servidores e se propagar organicamente.
Na prática o que acontece é que uma pessoa que usa o microblog Mastodon em mastodon.social pode ver em sua timeline as postagens desse blog, que está na instância www.memedecarbono.com.br. Ela pode curtir, repostar e comentar como se esse site estivesse dentro do servidor dela. Os comentários que ela e outras pessoas fizerem aparecem também na página do artigo e vice-versa.
Problemas
A Internet Social, por natureza, provavelmente será sempre mantida principalmente por pessoas ou pequenos grupos não comerciais e não governamentais construindo uma nova cultura de coletividade.
Onde há humanos e coletividade haverá atritos, é claro, e uma instância pode ser isolada pelas outras se violar as normas sociais.
Isso pode ser um desafio, por exemplo, para uma empresa vista como responsável pela crise climática, como uma indústria de exploração e refino de petróleo. Por outro lado também é uma oportunidade única de desenvolver a comunicação com a sociedade em geral, afinal, esteja na Internet Social ou não, as empresas estão no mundo e precisam lidar com isso. Além do mais, se não estão na Internet Social com suas próprias vozes, estarão ao serem comentadas por lá.
Aprender participar de um novo tipo de cultura social também é desafiador para todes, inclusive pera as pessoas comuns que começam a povoar aquele ambiente. Foi assim com BBS, IRC, blogosfera, redes sociais comerciais etc. Não é diferente com a Internet Social livre e descentralizada.
Quanto antes colocamos nossos pés em novas terras melhor.
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