______ Social para quê?
Rede, mídia… Qual é a diferença? Para quê servem? O que elas teriam para te dar? Qual é a medida de sucesso? Qual é a ganho de ter sucesso nelas?
Talvez a gente devesse até começar nos perguntando se é mesmo bom para nós manter redes sociais online, e leve em consideração que estou levantando essa pergunta muito embora tenha construído online praticamente toda a minha rede de contatos e amizades desde os anos 90 do século passado, quando praticamente só havia BBSs e IRCs.
A pergunta talvez seja outra: do que vale a pena abrir mão para manter contato online com outras pessoas e se realmente temos que abrir mão de alguma coisa.
Até aproximadamente 2013 dávamos muito pouco para estar no extinto Twitter, no Facebook e outras redes. Eram tempos em que as redes estavam investindo enquanto buscavam um modelo de negócios.
Tudo mudou quando esse modelo foi achado: redes socais mediadas por algoritmos que, como tento mostrar no post linkado aí, acabam deteriorando em campos de mídias sociais, ou seja, grandes mercados onde vendem a oportunidade de influenciar o nosso viés e nossos desejos, onde os usuários são o produto e corporações e grupos políticos com muito$$ recur$o$ são os clientes.
Depois dessa introdução acho que posso definir o que estou considerando como rede e como mídia social.
Definição: Redes e Mídias sociais
Para todos os fins sempre me refiro a redes sociais como malhas de pessoas em contato entre si, mais especificamente online. Existem ambientes onde essas redes se estabelecem: email, redes sociais comerciais, jogos online, redes sociais sem fins comerciais, podem se estabelecer até mesmo em um sistema de mensagens como o Signal e até no WhatsApp ou Telegram, que inspiram cuidados pois são comerciais e precisam de formas para dar lucro.
Até bem pouco tempo mídia social era algo que se fazia em redes sociais, era uma ação como criar um perfil para a empresa em um ambiente onde se formam redes sociais e usá-lo para interagir com os clientes da empresa.
Quando comecei a escrever esse post pensava em chamar de redes sociais os ambientes online não comerciais onde podem se formar redes de contato e de mídias sociais aqueles que são comerciais e inevitavelmente terão que “capitalizar” seus “usuários” convertendo-os em produto.
No entanto percebi que é necessário marcar firmemente a diferença entre redes e mídias sociais, logo:
Rede Social:
Uma malha de pessoas que se comunicam livremente sem serem perturbadas pela comercialização dos dos seus desejos, vieses e emoções.
Mídia social:
Uma malha de pessoas que se comunicam com a intermediação de algoritmos que influenciam com quem elas vão interagir mais, que tópicos terão mais destaque para elas em suas TLs e que comerciais verão intercalados em sua comunicação com seus contatos.
Mídias sociais: Resistir é inútil?
Penso que esse é o ponto central de toda essa discussão.
De nada adianta falar em um tipo Internet utópica onde podemos nos comunicar livremente se ela for realmente utópica, ou seja, alcançável apenas em um futuro distante que pode até ser impossível.
Esse tópico pode ser infindável também se não tomarmos cuidado e seguirmos pelo caminho de questionar se devemos ou não formar redes sociais online abertas onde podemos interagir e receber interações de praticamente qualquer pessoa com uma conexão à Internet. Por isso vou assumir que sim, devemos, que é essencial que façamos uso da Internet para reduzir fronteiras sociais e culturais desenvolvendo a noção de aldeia global, de passageiros da pequena nave Terra ou algo assim.
Realmente, quando as redes sociais comerciais (do Friendster e MySpace ao Twitter e Facebook passando pelo Orkut e Multiply) surgiram era utópico pensar em estruturas não comerciais onde as pessoas pudessem se reunir sem depender da “magnanimidade” de grandes corporações.
Apesar disso, já em 2008 existiam ideias germinais para criar essas estruturas, que só foram começar a se materializar por volta de 2013. Falei disso em um post explicando por que eu estava deixando de usar os serviços do Google e em outro sobre a importância da privacidade e como já é possível tê-la.
Até 2004, muito embora muita gente já vivesse em redes sociais online desde o início dos anos 90, a maioria torcia o nariz e “as pessoas da Internet” eram figuras excêntricas dos blogs, do Orkut etc. Só depois de uma massa crítica se tornou comum, mas não só isso, as pessoas que não estavam em redes sociais online passaram a ser vistas como esquisitas e hoje há um certo sendo comum de que não seremos plenos se não estivermos nos expondo online.
Nesse momento passamos por uma outra fase como essa em que um bocado de gente se afasta das redes sociais mediadas por algoritmos migrando para lugares como o Fediverso, que já andei explicando no post Redes federadas e o futuro da Internet social.
Eu diria que se afastar dos algoritmos que mediam nossa vida social não só é possível como muita gente já vem fazendo isso até mesmo sem sair do X ou das malhas da Meta ao controlar mais suas estratégias de navegação em uma corrida de gato e rato desagradável, mas possível.
O mais importante é que:
Resistir sempre é útil!
Outro ponto a considerar: em que a sua presença no X ou na Meta tem beneficiado seus relacionamentos? Suas amizades? A formação de novos contatos em sua rede social?
Houve um tempo em que realmente convivíamos online. Marcávamos o cinema, o teatro, o boteco e reencontrávamos amigues e fazíamos novas amizades, às vezes até mesmo sem nos encontrarmos pessoalmente.
Isso tem acontecido com você? O Facebook, o Instagram, o X são espaços de convivência agradável?
A metáfora do feudo
Em 2015 já se escrevia coisas assim:
One thing that social media and social networking have in common is that they both depend on viral marketing to become truly successful.
Michael Cohn no Linkedin
É nisso mesmo que queremos transformar nossas amizades? Uma busca por sucesso e por viralização? Habitar um ambiente online que esconde o que você compartilha com seus contatos se não for algo que caia nas graças do algoritmo?
E estamos falando no sucesso de quem, José? O sucesso em um relacionamento é a intimidade, a confiança, o compartilhar emoções, desejos, interesses.
Estamos sendo cercados aos poucos por um tipo de neo feudalismo (é, não fui eu que inventei isso, siga o link) em que, entre outras coisas, o próprio espaço onde vivemos socialmente é propriedade de alguma mega corporação e, pior, muito pior, esses espaços são controlados por algoritmos cujos objetivos são influenciar nossas emoções para permanecer lá e nos deixar no estado de espírito mais interessante para quem paga mais pelo algoritmo. Se você está pensando naquela pessoa que parecia normal e hoje tem posições e vieses políticos absurdos, pode ter certeza que esses feudos digitais tiveram participação, mesmo que elas não os frequentem pois eles também são usados para mapear os melhores jeitos de influenciar as pessoas de acordo com as suas características geográficas, etárias etc.
Infelizmente isso não é teoria da conspiração, inclusive considero conspirações uma tolice e talvez o post A prisão invisível que ameaça a civilização seja suficientemente esclarecedor.
O que eu quero que você faça?
Absolutamente nada! Sério! Quero plantar sementes de reflexão sobre como nós vivemos em sociedade online, se estamos em ambientes saudáveis e que respeitam nossos sentimentos e nos deixam escolher como interagir com as pessoas, se esses ambientes favorecem a interação respeitosa considerando a enorme diversidade cultural humana.
Eu sou um early adopter, ou seja, uma pessoa que gosta de estar entre as primeiras a conhecer novos territórios. Por conta disso já tem uns meses que migrei para o Fediverso (citado num link mais acima, mas tá ai de novo para a sua comodidade) ainda que a grande maioria das pessoas com quem interagia em outros ambientes não tenha ido para lá. Estou fazendo novas amizades. De qualquer forma os algoritmos já me afastavam dessas pessoas nos X e Metas da vida.
Por outro lado definitivamente não sou um early quitter, ou seja, posso não estar entre os últimos a abandonar um navio afundando, mas certamente não sou um dos primeiros porque fico o quanto dá para estar junto das outras pessoas, mesmo quando não as conheço.
Ainda assim já há alguns meses passei a aparecer no Facebook a cada 7 ou 15 dias e no X a cada mês. E, veja só, olho o Instagram todo dia para ver os stories de algumas pessoas que gosto ou produzem bom conteúdo, não mais que 12, mas é o suficiente para eu continuar indo lá por fora dos algoritmos. Não é suficiente no entanto para eu me desgastar publicando coisas com frequência.
O que eu quero é que nós todas possamos nos encontrar como pessoas livres e sem que pilhas de Inteligências Artificiais estejam ao nosso redor sussurrando coisas em nossos ouvidos que podem nos envenenar a ponto de odiarmos a humanidade nos casos mais extremos.
O que posso recomendar?
Eu realmente acho que redes sociais mediadas por algoritmos, dentro de um tipo de capitalismo feudal, que não dá sinais de que se transformará tão cedo, estão fadadas a se tornarem tóxicas e incapazes de nos permitir que nos unamos de uma forma orgânica e saudável.
Entendo que fediverso é um nome estranho, que sair de onde parece que “todo mundo está” é até meio assustador, mas pense na qualidade dos seus relacionamentos.
Tenho certeza que você deve ter um grupo num mensageiro onde mantém contato com as pessoas realmente queridas e talvez até ligue para algumas delas, sim, daquele jeito que os incas faziam, ligação de voz!
Pense bastante na quantidade de tempo que está dedicando a ambientes mediados por algoritmos e veja se eles não estão sugando de você tempo que poderia aproveitar tenho relacionamentos mais significativos do que rir da piada que a pessoa postou. Inclusive até com a própria pessoa que postou a piada! O que é melhor, rir assincronamente com ela da piada ou rir sincronamente com ela das suas piadas internas?
O que posso recomendar, enfim, é dar valor ao tempo…
E seu eu tiver que me vender?
É verdade! Tem muita gente que realmente precisa se vender, precisa procurar online alunos para o curso que vende, o produto que manufatura e até para construir uma carreira de “criador” digital influencer para vender propagandas.
São formas de viver. Eu até recomendaria outras formas de buscar clientes, mas aí já é outro post, né? E estar onde “todo mundo está” é o jeito que funciona hoje. Então esteja já, mas… fique de olho e cuidado que muitas vezes esse “todo mundo” é uma ilusão e eu recomendaria fortemente buscar a formação de redes de contato criando seu próprio site, sua mala direta e até contatos offline!
Referências
Imagem que ilustra o post
Foto de Hannah Busing na Unsplash


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