Estamos assistindo a um golpe techno autocrata?

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Falar em golpe, ainda mais um golpe global, soa como mais um delírio conspiracionista. Pelo menos é a primeira coisa que me vem à mente independente da fonte.

Estou de olho nisso faz um tempo, mas raramente me verão ser o primeiro a lançar hipóteses que beiram o fantástico. Tão pouco sou um dos últimos a sugerir atenção. Em 2014 eu falava da transformação do Facebook, que deixava de ser uma rede social e modelo de negócio “tipo Internet” e se aproximava do modelo de mídia de massa. Em 2018 estouraria o caso Cambridge Analytica.

Sugiro assistir o vídeo mais abaixo, que foi o que me fez perceber que era hora de escrever esse post e outras fontes que vou linkar em seguida. Nele Carole Cadwallad defende em uma fala no TED que os EUA estão em pleno processo de golpe autocrata e não vejo porque o golpe não se estenderia para o restante dos países.

Apesar disso vou manter minha posição mais cautelosa porque entendo que estamos no meio de um grande… ou melhor, no meio de grandes turbilhões de emoções, estímulos, informações e desinformações, timelines infinitas e influências vindo inclusive da mídia offline.

Por outro lado tem alguns pontos muito importantes que precisam ser comentados!

E se?

E se acontecer? Se estiver mesmo acontecendo?

Não se trata de não ter nada a esconder. Em sistemas autocráticos, totalitários, ditatoriais e similares todos são vistos como tendo algo a esconder e a liberdade é inimiga do Estado.

Mesmo que não esteja acontecendo um golpe tem muita coisa acontecendo. Amazon, Meta, Alphabet, Oracle (possível compradora do TikTok e um dos principais sistemas de bancos de dados) e mais um punhado de outras tem acesso a um volume e profundidade de informações sobre nós que lhes concede um poder inimaginável!

Já vimos na história e na fantasia o que acontece quando alguém tem poder demais, né? E, acredite, nem em 1984 do Orwell, o Estado tinha tanto poder quanto essas empresas.

A gente tem motivos para se preocupar. A gente tem motivos para exercer nosso direito a privacidade.

A única coisa que nos impede de exercer os nossos direitos é que…

…Fomos convencidos de que somos impotentes

Ouço isso sempre que falo em direito a privacidade: não tem saída. E isso simplesmente é falso! Eu, por exemplo, nunca vejo no meu celular ou nas páginas que abro, propagandas que parecem ter lido a minha mente. E nem fiz grande esforço para isso.

Onde perdemos a nossa privacidade:

  • Gmail: Esse é o mais fácil de se livrar já que existe uma infinidade de alternativas como o Proton, o Tuta e mesmo o Zoho, que é uma proposta parecida (e mais antiga) com a do Google Workspace. Todos com ótimas versões gratuitas;
  • Busca do Google: A era das IAs GPT deu o que pode ser o golpe final na qualidade dos resultados tornando mais eficiente fazer buscas diretamente em sites como a Wikipedia, jornais ou revistas especializadas. Em todo caso existem alternativas como o DuckDuckGo, que inclusive frequentemente dá melhores resultados.
  • Mídias sociais: Note que não chamei de redes sociais propositalmente. Nos últimos anos as únicas redes sociais disponíveis online são o Fediverso e as que fazemos em sistemas de troca de mensagens. Se livrar do TikTok, Meta e Bluesky (lamento, mas é a próxima mídia social com os mesmos problemas) é o maior obstáculo atualmente e merece posts próprios, mas aqui eu vou sugerir pensar se realmente o tempo que você tem entregue a essas mídias está fazendo bem às suas relações sociais; se você tem recebido as informações mais relevantes; se está te fazendo bem psicologicamente ou se seria melhor falar diretamente com as pessoas por sistemas de mensagens instantâneas.
  • Por falar em mensagens instantâneas… Usar alternativas ao WhatsApp parece impossível, mas apenas se não pararmos para pensar. Nada impede de combinar com as pessoas próximas e ter, além do WhatsApp para as coisas chatas, uma alternativa só para o espaço da amizade. Existem muitas a começar pelo conhecido Signal (de onde o WhatsApp pegou a tecnologia de mensagens), Matrix (distribuído e descentralizado. Sugiro o cliente Element), Simplex, Jami, XMPP só para citar alguns bem recomendados e que tenho instalados. Está na fila um post novo sobre aplicativos de mensagens. O anterior está velho.

Para cada coisa que fazemos online entregando a nossa privacidade em troca existem modelos de negócio que tornam possível oferecer privacidade e gratuidade.

Lembre-se do mochileiro: Não entre em pânico

A segunda coisa que mais nos congela: o pânico que nos deixa sem energia para dar sequer um passo para sair daquela situação ou mesmo pensar nela.

Por enquanto está tudo bem… Tá… O tecido social está todo esgarçado pela polarização e pela intolerância a qualquer discordância. Coisas que, tenho forte convicção, se dissolvem quando as pessoas se afastam das mídias sociais, mas vamos um passo de cada vez!

O primeiro passo é saber que você pode conquistar liberdade e privacidade aos poucos e que tem muita gente ao nosso lado (tem dicas de podcasts e mídias na minha página de recomendações).

Depois mude para um email seguro aos poucos. Não precisa apagar o gmail. Na minha experiência isso já é mais da metade do caminho para sair da vigilância dos feudos digitais.

Em seguida vá conversando com amigos, amigas, amigues sobre ter um sistema de mensagens só para vocês! Um lugar onde falar sabendo que está em segurança.

Um passo mais ousado é buscar uma rede social de fato, mas se você for uma pessoa de rede social, que tem esse impulso. Estou convencido que redes sociais online são como gostar de rave. Tem gente que gosta, tem gente que não gosta! Sou das que gosta (não de rave, de rede social online), mas sinceramente… acho que as pessoas que se dão melhor com contatos mais privados estão em vantagem. Seja como for, ao procurar uma rede social tenha em mente que é muito diferente das mídias sociais. Elas não são uma alternativa ao mercado do ego e outras características que passaram a dominar essas mídias, elas são espaços de interação social.

Vou deixar aqui o usuário desse blog no Fediverso, a rede de redes sociais, assim toda vez que eu postar alguma coisa nova ela aparecerá na sua timeline.

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Qualquer que seja o caminho que você seguir recomendo que vá, aos poucos, com calma, retomando a Internet como um espaço humano, seguro e privado.

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Imagem: Foto de Tobi Oluremi na Unsplash

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Comentários

Uma resposta para “Estamos assistindo a um golpe techno autocrata?”

  1. @roney o vídeo anterior que ela fez no TED também é muito necessário.

    Eu não ter visto na época é um possível exemplo da capacidade de bloqueio das mídias sociais…

    https://www.ted.com/talks/carole_cadwalladr_facebook_s_role_in_brexit_and_the_threat_to_democracy?subtitle=pt-br

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