O Christian Bleffe tuitou o post Aqui, já num era para a Internet tá funcionando? e o meu comentário ficou tão grande que tive que transformar em post. Lá vai…
Bem, na minha opinião a nossa civilização decidiu que a Rede é um instrumento para permitir que o conhecimento e a cultura fluam livremente, é um lance que tem a ver com um papo maluco de memética, mas o fato é que a grana não está no centro dos nossos esforços coletivos online, muito pelo contrário: vamos na direção de tornar tudo grátis.
E como fica o leitinho das crianças ou o jantar com a pessoa amada? Como paga?
Esse é o desafio de quem produz coisas que podem ser digitalizadas (livros, músicas, vídeos etc): descobrir como ser pago pelo que circula online.
Durante a transição para viver dessas coisas intangíveis só mesmo com uma solução híbrida: recebendo grana por livros, CDs, DVDs e do que foi compartilhado online. Uma hora o online vai passar o offline e quem soube fazer a transição vai se dar bem. Espero que ninguém realmente bom fique na rua da amargura por não saber entrar online…
A minha aposta vai para o exemplo dos bares de Alcântara-RJ (mas poderiam ser de qq outra cidade satélite) onde dezenas de trabalhadores famintos pedem centenas de refrigerantes e pasteis chineses e pagam só no final dizendo ao caixa direitinho o que consumiram: as pessoas são honestas quando acreditam em quem lhe oferece o produto. Pelo menos a maioria delas são ou os bares fechariam as portas.
A Internet é assim: a galera sai baixando música, escuta, gosta ou não gosta e só precisa desenvolver o princípio ético de ir ao caixa para pagar o que gostou, mas onde é o caixa? Quantos artistas divulgam formas de pagamento em seus sites?
Quanto à cauda longa ela serve para duas coisas.
A primeira é para os trabalhos artísticos tão bons que são capazes de revolucionar a arte, mas que ficavam relegados ao esquecimento porque não agradavam as massas. Agora eles podem alcançar um punhado de pessoas que vão criar coisas em cima daquilo até que algumas partes cheguem ao chamado mainstream. Esse pessoal só precisa aprender a existir na Internet como costumo dizer.
A segunda funcão da cauda longa é corrigir aqueles “errinhos” das gravadoras e produtoras que costumam ignorar justamente as obras que vão se tornar os maiores sucessos de massa de todos os tempos. Lembro melhor dos exemplos em cinema e literatura como Guerra nas Estrelas, Harry Potter e Peter Rabbit de Miss Potter, mas talvez quase todas as grandes obras tenham sofrido para serem aceitas pelos produtores e agora elas podem buscar reconhecimento primeiro online a exemplo do movimento musical “Faça vc mesmo”.
Hummm… A cauda longa também serve para artista ruim que jamais venderia para o público ou viveria do seu trabalho, mas consegue pelo menos uns trocados para pagar o condomínio graças a fãs de mau gosto que pagam por seus trabalhos 😉
Falei, falei e falei, mas como fica o dindin via Internet?
Sinceramente, acho que tudo passa pela construção de um relacionamento de confiança com os ouvintes e pela criação de formas deles pagarem pelo que gostarem, mas cada caso é um caso, cada um terá que desenvolver sua própria “fórmula”.
Só uma coisa é certa: quem achar primeiro os caminhos para as pessoas online os recompensarem por sua arte vai se dar muito bem pois haverá muito mais grana (se é que já não há) online que offline.
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Pois é, Roney..
Essa galinha dos ovos de ouro tá gorda, dá pra notar. Tem muita grana rolando online já, mas ela ainda não visitou meu bolso…hehehe
Essa questão da “fórmula pessoal” de cada artista pode ser o caminho.
Fui numa palestra do Gerd Leonhard dentro da Feira Música Brasil e ele disse que o caminho é vender acesso ao invés do conteúdo simplesmente.
Sim, legal, mas temos um problema.
Temos que ter conteúdo, certo? Pra termos, temos que produzí-lo, certo? E pra isso, precisamos de grana, certo?
É aí que começa o ciclo…
Se você não tem recurso próprio pra investir no seu trabalho, a única forma de fazê-lo é com shows.
Mas, se você não faz shows…
E seguimos nesse ciclo interminável!!!
e mais..tá todo mundo envolvido nisso!!
1. O público, cada vez mais “preguiçoso”, no que diz respeito a novos sons;
(nós mesmos quando tocamos, percebemos que o público nem se anima a ouvir nossas músicas, e até se aproximam do palco quando rola uma versão (raramente tocamos “cover”)
2. As casas de show, que priorizam os “medalhões”;
(repare nas programações…são sempre as mesmas bandas!!!)
3. E, por fim, a tão falada desunião.
(RARAMENTE um artista ou banda te chama pra dividir o palco!!! Fizemos isso no “Bleffe Convida”. Foram 10 edições e quase 40 artistas tocando com a gente. Porque paramos? vide o número 1.)
Pra fechar, copio o John Ulhôa:
“está cada vez mais valendo aquela máxima: “Eu sou músico”. “Ah, tá, e trabalha com o quê?”.
Hummm… Raciocinando memeticamente…
1- Se a maioria das pessoas buscassem novos memes não haveria depuração deles tornando-os superficiais e frágeis. A maioria das pessoas busca memes já mais estabelecidos. Com isso quero dizer que, por exemplo, se três malucos inventam uma religião em torno dos Deuses de Kobol só a tal da cauda longa vai entrar na onda, mas com o tempo ela pode se tornar um Jedaísmo e chegar perto de ser considerada religião aceita em alguns países 😉 Conclusão: o público para novos sons são pequenos grupos cuja qualidade é identificar, propagar e modificar novos memes. Pode ser possível viver deles se houver forte identificação entre o artista produtor de novos memes e esse público. O melhor é ter alguns trabalhos “comerciais” e outros inovadores.
2- Casas de show assim como gravadoras e distribuidoras estão presas aos mesmos limites do universo físico e tangível: precisam encher um número limitado de lugares em um intervalo limitado de tempo. Elas vão preferir o que for garantido. Quem é inovador precisa descobrir outros espaços para shows… Ou casas de show audaciosas. Em pouco tempo talvez seja possível orquestrar algum tipo de show online num Second Life da vida.
3- Essa é complicada… Estamos na transição entre economia de consumo e economia cognitiva. No momento a maioria quer grana, grana, grana e não está errada pois sem ela não dá para fazer muita coisa. Essa necessidade de competição pode ser responsável por boa parte da desunião… Tô pensando em um remédio 2.0 para isso… Alguma coisa em torno do conceito de crowd computing ou trabalho em multidão… Se estamos falando de artistas cuja produção não visa o main stream temos que pensar que uma banda atrai 400 pessoas que não pagariam o pão com ovo no dia seguinte, mas 50 bandas em um grande espaço atrairiam talvez 2 ou 4 mil pessoas interessadas em diversos trabalhos. Um modelo de rave desse tipo pode levantar grana para sustentar as bandas participantes… Mas isso não é bem uma ideia, é antes uma sugestão de linha de raciocínio, entende?
Bons raciocínios, caro Roney…
Bom, vamos que vamos!!!
1. É verdade..Talvez falte isso. Inovação! Em termos gerais (cenário) e específicos(Bleffe). Talvez o que apresentamos ou vemos ser apresentado por aí não traga muita novidade mesmo, e por isso não haja uma identificação. Pensarei nisso, dividirei com os colegas da banda e de outras também. Seita dos Deuses de Kobol já vi que “existem”. Quem sabe um Seita ao CartaCerta (entendeu a alusão? carta, Bleffe, hein, hein? …putz)
2. Shows online já acontecem: Rolou um do U2 via youtube, e tem um site que transmite alguns. (Rockpit, acho). Mas, se você de shows 100% online, sem platéia…humm. Pode ser uma bela idéia. Quem sabe não esteja aí uma opção de venda de “acesso”, conforme o Gerd falou…
3. Entendo…Não sei se consegui entender, mas, você quer dizer algo tipo:
Pegamos 20, 30 bandas e colocamos numa “maratona”, tipo rave mesmo, noite inteira, etc, etc, etc?
SE é isso, já rola, e é complicado. As pessoas não tem paciência pra ouvir tanta música “desconhecida” e acabam indo embora na 5ª, 6ª no máximo.
Adicione a isso a burrice e ignorância generalizada que impera no momento, que só permite que esses cérebros atrofiados entendam um ritmo/música próximo à obviedade das músicas infantis. Daí esses funks da vida, os axés, etc. Pra esses – que são um enoooorme público – não há espaço para nada de novidade muito menos de qualidade.
Além disso, a novidade é difícil de ser aceita a meu ver por alguns motivos: a natural resistência às mudanças; a comercialização/massificação da música (muitas das músicas e artistas hoje em dia só fazem sucesso por causa da quantidade de propaganda e “empurrãozinho” de famosos); o medo de boa parte do público de parecer “alternativo” ou “diferente” porque busca uma novidade (isso tem a ver com a burrice generalizada a que me referi).
Ouço muito a MPB FM, e o que eu ouço de versões e cantores-filhos-de-cantores não está no gibi. Simoninha, Maria Rita, Diogo Nogueira, e por aí vai. Não tiro o mérito da qualidade de alguns deles, mas muitos deles não chegaria lá se seguissem “o caminho normal”.
Agora mesmo eu estava ouvindo “Chocolate” do grande Tim Maia. Se sou eu que faço uma música dessas, o mínimo que me chamariam seria de imbecil. Mas como foi o Tim Maia….
Sou um pouco Poliana e prefiro ser um pouco menos pessimista considerando que os cérebros humanos não estão atrofiados e apreciariam cultura mais complexa, no entanto eles também apreciam o prazer instintivo despertado pelas sequências simples que, naturalmente, também são mais fáceis de produzir.
Nesse caso a indústria mainstream está presa em um processo de auto-destruição: faz cultura cada vez mais simplória a fim de atingir o máximo possível de pessoas tornando-se cada vez mais descartável…
Sendo assim em breve ela verá que ninguém estará disposto a pagar pelo que ela produz passando a pagar para quem tem produções realmente criativas.
Mas esse é o Roney eternamente otimista falando… Bem, pelo menos tenho um encadeamento lógico baseado na memética para provar que a informação (e a cultura) tendem a se tornar cada vez mais complexa 😉
O fato é que a gente está no bolo dos acontecimentos, é como estar junto com um monte de gente sendo levado por um tsunami. Não dá para ter uma visão geral. Temos que esperar e observar para ver onde estamos indo do ponto de vista coletivo…
Galera,
só o tempo dirá.
O que me preocupa é que hoje em dia está uma onda de dizer que o que não se ouve é “cafona” e o que presta é o que está na mídia etc.
Realmente está faltando cultura a esta gente. Enquanto não houver uma espécie de desanimalização (sim, isto mesmo, estamos animalizados, pulando feito macacos ao som de ritmos banais e repetitivos, tribais, como trogloditas sem espiritualidade, sem sensibilidade, sem conhecimento, ao lado de pessoas estranhas, sem amor e perigosas, a isto se chamam alegria) não poderemos curtir como se curtiam músicas inspiradas que faziam sucesso pelo seu conteúdo de valor. Os valores de hoje são muito diferentes. Foram reduzidos à aparência e à produção por tráz do “artista”. Bem, sem me estender muito (e tem muuuita coisa para se dizer a respeito…) deixemos a poeira baixar enquanto tentamos novos caminhos. Minha esperança é que uma grande catástrofe atinja a humanidade e, finalmente passemos por este ciclo pouco evoluído onde os interesses materiais, capitalistas e a falta de profundidade nos atos “ditam” o comportamento de pessoas tidas como “com crédito” e fazedoras de opinião.
Muito bom o texto, raciocínio e ponto de vista!
Parabéns!
Lebra