A morte da Internet (de novo)

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Nos últimos dias as pessoas tem me mandado mais artigos e declarações de que, dessa vez, a Internet acaba! Ahã… Senta lá 😉

Fim número um: Deep Fake

Em um vídeo Neil Degrasse Tyson (por que continuamos fazendo pessoas falarem de áreas que não entendem?) declara que, quando os conteúdos deep fake forem tão bom que se tornarão indistinguíveis de conteúdo real, as pessoas que acreditam em fakenews deixarão de acreditar na Internet como fonte de informação e nesse dia a Internet voltará a ser uma rede de gatinhos…

Cara… O argumento nem faz sentido, notou? Desde quando a função informativa da Internet (da Web, na verdade, e recentemente das redes e mídias sociais) se dá pelas pessoas que acreditam em fakenews?

Existem diversos jornais, revistas e canais de TV inteiros dedicados a fakenews e sensacionalismo (History cofcof Chanel) e nem por isso o jornalismo acabou!

No Fediverso vê-se um bocado de gente levantando justamente a hipótese oposta, e muito mais coerente, de que, quando o falso é indistinguível do verdadeiro, nos resta selecionar fontes confiáveis… Sim, identificar boas fontes é um problema para algumas pessoas, mas convenhamos que o problema é um pesado investimento em desinformação e estímulo da pós-verdade.

Então esquece esse fim.

Fim número dois: Google e resumo por IA

O artigo da BBC anuncia que o Google passará cada vez mais a mostrar resumos de IA generativa em vez de entregar links para os artigos e que:

“A internet foi construída com base em um acordo simples: sites permitem que mecanismos de busca como o Google absorvam seu conteúdo gratuitamente, e, em troca, o Google direciona visitantes para esses sites, onde eles compram produtos e veem anúncios. É assim que a maioria dos sites ganha dinheiro.” – Só que não!

Fonte: O Google está prestes a destruir a Internet? – BBC

Não! A Internet não foi construída com base nesse acordo! Nem mesmo a Web foi construída com base nesse acordo (os buscadores como o Google só linkam sites na Web e não em FTP, Gopher, NewsGroups, aplicativos).

A Internet sequer foi feita para ser uma plataforma de negócios, ela é uma extensão cibernética e online do mundo offline e especificamente para o registro e conexão de ideias, para a interconexão entre a infinidade de sites.

Há 18 anos o professor Michael Wesh fez esse vídeo explicando o que era a Web 2.0:

Em tempo… Quem ainda faz buscas no Google? Tá, eu sei que é muita gente, mas desde 2019 essa deixou de ser a melhor forma de acessar informação online! Já há muito tempo é preferível buscar diretamente em fontes conhecidas, como jornais ou sites especializados. Muita gente busca em mídias sociais (o que é péssimo, mas algumas vezes é menos ruim que o Google).

Que “Internet” vai acabar?

Entendo o medo do mal uso das IAs (desde maio de 2023 alerto sobre as IAs generativas), das ameaças das mídias sociais (rede social só no Fediverso) com seus algoritmos e agendas políticas e da dependência que muitos negócios online criaram ao sustentar seu modelo de negócios nas buscas do Google e divulgação em mídias sociais. Só que isso é uma parcela ínfima da Web e mais ínfima ainda da Internet!

Esse site não ganha nada do Google. Meu site pessoal sobre cultura e a vida, o roney.com.br também não e já viu, nos últimos 24 anos, a ascensão e fim de uma pá de redes e de mídias sociais (agora ambos são parte da gigantesca rede social conhecida como Fediverso).

Manter um site é muito barato, não mais que 30 reais por mês, e há uma infinidade de motivos para ter um site: reputação, ativismo, libertar ideias, conhecer pessoas, contribuir com a sociedade ou apenas “porque sim!“.

E não é apenas isso: O Archive não vai terminar, a Wikipedia não vai terminar. Nem mesmo os streamings de vídeo e de música vão terminar por causa de deep fake ou do fim das buscas do Google (que acho que já vão tarde, viu?).

Arrisco dizer que nem mesmo os sites jornalísticos, como a BBC, vão acabar porque o Google não leva mais gente para eles. O que pode causar o fim deles é não se adaptarem. Uma adaptação que já deviam estar fazendo há MUITO tempo!

Quando avisei em 2014 que o Facebook estava reproduzindo o modelo de mídia mainstream, já era para terem começado a investir na reputação dos seus sites, mas em vez disso mergulharam na dependência das mídias sociais e dos buscadores… Tá, ninguém ou quase ninguém me conhece, mas eu não era o único avisando. Aliás, nem precisava avisar! Quem estava atendo percebia!

Então, que sites vão acabar? Ora! Os que não fizerem o seguinte:

  • Assumir uma estratégia narrativa online que leve as pessoas das mídias sociais para seus sites;
  • Integrar seus sites às redes sociais de fato através do Fediverso (é trivial);
  • Deixar claro que não gera conteúdo com IA generativa ou deixar muito claro como elas são usadas, por exemplo: Só usamos IAs generativas para adequar os textos ao nosso manual de estilo. (pessoalmente não uso para nada pq são meio inúteis para mim e grande parte da minha produção é justamente para exercitar a minha mente e não faria sentido delegar);
  • Tá bom de dica, né? Tô nem cobrando, pô! Hahaha! Mas se quiser, tem link lá em cima para contribuir com R$1,00 (é um real mesmo).

Do túnel do tempo

Em 2010 já tinha gente alarmista falando no fim da Web e escrevi dois posts na época que, em grande parte, continuam sendo úteis:

Imagem

Foto de Edward Kucherenko na Unsplash

Reações no Fediverso

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