Bluesky, um resumo

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Post atualizado em 30 de novembro de 2024. Clica aqui

É bem cedo para falar do Bluesky, no entanto, dado o falatório sobre ele desde que começou a liberar convites achei que não tinha como esperar (a julgar pelo desinteresse nas minhas TLs acho que me antecipei, mas tudo bem).

Se vier a ter mais alguma coisa a falar sobre essa rede editarei esse post, certo? Então guarde o link ai. As novidades ficarão no final. Não vou alterar o texto original.

O que é? Pq ir para o Bluesky?

Na verdade redes como as que o Bluesky diz que será podem ser muita coisa indo de Twitter a Instagram (links para redes protocolo ActivityPub, precursor do Authenticated Transfer Protocol do Bluesky), mas por ora ela é somente um clone do Twitter.

Quando ficar pronto o Bluesky será uma rede federada como o Mastodon o que deve torná-la “à prova de Elon Musk” (palavras do marketing da rede).

Isso significa que ninguém será dono dele e poderemos criar nossa conta em qualquer instância ou servidor Bluesky ou mesmo criar a nossa própria instância.

É como se fossem ilhas interligadas onde podemos conversar com as pessoas da nossa ilha ou de qualquer outra como se fosse um lugar só, um arquipélago integrado.

No entanto, por enquanto, o Bluesky tem apenas um servidor disponível para as pessoas. Então aqui vai a primeira resposta para a pergunta no título acima:

Por enquanto é para quem gosta de desbravar

Nesse exato momento ele é muito parecido com o Twitter de 2010: não tem algoritmos, DM, só pode anexar fotos, não tem block (mas pode “mutar”), não tem como marcar um post como sensível (o CW do Mastodon), não tem busca por #Tag, não tem listas para organizar quem seguimos, não tem timeline local/global, tem uma timeline (ou skyline como tem sido chamado lá) “posts quentes”, mas não tem algo parecido com trending topics entre um monte de outras coisas que não tem lá. Enfim, é uma versão beta que é quase alfa.

Tem o fator privilégio de ter recebido um convite, mas isso é realmente uma besteira. Assim que for considerado pronto deixará de haver escassez de convites e devem sobrar outras instâncias na federação.

A propósito, como a meta é um dia ser como o Mastodon, quem realmente quer desbravar o futuro do Bluesky talvez devesse começar por lá.

Tem também o clima de território novo com pouca gente, o que resulta em uma dinâmica mais leve, muito embora já estejam rolando uns estresses aqui ou ali, mas nada perto do que se vê em redes com milhões de pessoas. Da última vez que vi eram menos de 50 mil usuários.

Me parece que muita gente vai para lá por ser novidade, por causa do marketing e, talvez, por parecer mais simples que outras redes federadas afinal ainda não é uma federação.

O que o Bluesky promete?

Se o Bluesky é uma rede federada ainda sem federação e uma versão muito reduzida de outras redes federadas como o Mastodon, então porque não ir para essas outras redes? O que ele promete que as outras não tem?

Ideias novas

As novas ideias não são necessariamente boas. Minha impressão é que elas visam tornar possível uma rede federada comercial.

Por exemplo, uma das ideias mais comentadas é de um tipo de loja de algoritmos, ou seja, além do algoritmo base que mostra as pessoas que seguimos em ordem de publicação, podemos optar por outros algoritmos que, por exemplo, mostrem propagandas de acordo com o que publicamos. Cada instância também poderá oferecer seus algoritmos locais. Mas isso é só uma hipótese. Ainda não está claro como funcionará essa ideia e ela implica um peso computacional que pode tornar caro criar uma instância. É uma das muitas coisas em aberto nessa fase de testes.

Atualizando em maio: Apareceu a “loja”, mas está mais para filtros criados por usuários. Coisas como “Preferidos de quem vc segue”

Outra ideia é uma transparência maior para as diversas instâncias e uma facilidade maior de migrar de uma instância para outra. Vou explicar melhor no próximo parágrafo, mas lembre que é tudo muito hipotético porque ainda não está disponível.

Vamos lá, no Mastodon eu sou @Roneyb no mastodon.social. Posso mudar para @Roneyb@ursal.zone (mudei para @roneyb no bolha.us na verdade) e levar para lá quem eu sigo e quem me segue. Já no Bluesky, em vez de Roneyb@bsky.social sou Roneyb@memedecarbono.com.br. Isso inclusive já funciona, basta criar um registro TXT no seu domínio. Enfim, mesmo que eu mude de instância o meu handle ou @ permanece o mesmo e, supostamente, além de seguidos e seguidores, meus posts (tweets ou toots), RTs etc vão comigo. Desconfio bastante da migração de posts por questões técnicas e por também implicar em instâncias mais caras, mas veremos (no Mastodon é possível, mas é meio manual).

Lá em 2019, quando a rede foi idealizada, eram três princípios básicos: portabilidade, confiança e segurança. A portabilidade está no parágrafo acima e a confiança, creio, tem a ver um pouco com a escolha de algoritmos. A segurança seria garantida por uma blockchain, mas isso parece ter sido abandonado e não achei dados sobre a criptografia dos dados no servidor, muito menos algo avançado como o que a Proton.me (que é VPN, armazenamento e email) oferece usando criptografia zero-knowledge.

Resta ainda pelo menos uma ideia no quesito confiança: É prometido um sistema de moderação que fica na mão dos usuários e instâncias, como é hoje no Mastodon, mas com o acréscimo de alguma moderação por algoritmo. No entanto ainda não vi qualquer sinal disso no beta, pelo contrário, as moderações (poucas ainda) estão sendo feitas por algoritmos centralizados como no Twitter.

As preocupações

Minha primeira preocupação sempre é com o modelo de negócio do serviço. Em 2021 falei sobre isso no post Sua privacidade em conflito.

Como os investidores do Bluesky, que vem gastando um dinheiro bem significativo em marketing, vão recuperar os investimentos e fazer lucro? O que eles vão vender? Se a rede é open source e federada e qualquer pessoa puder colocar um servidor no ar como os investidores vão ganhar? Por exemplo, eu mesmo poderia criar uma instância Mastodon baixando o código e instalando na minha hospedagem. O mesmo deverá poder ser feito com o Bluesky.

Talvez eles cobrem algum royalty para quem quiser criar instâncias, mas isso quebra totalmente a proposta de portabilidade, confiança e open source.

Até agora, a Bluesky é a empresa mais bem financiada nesse novo setor

Fonte: Forbes

Os termos de uso deixam aberto, de forma bem esguia, o uso dos dados dos usuários para fins próprios. Nesse caso o produto seríamos nós, como no Twitter ou no Facebook e poderiam nos vender para a próxima Cambridge Analytica interessada em influenciar o viés político e criar polarização. Estaríamos saindo de uma frigideira para outra.

Mais uma vez, tudo isso é hipotético. Acho realmente difícil criar uma rede de código aberto e federada que seja comercial, mas também não faz qualquer sentido ver a história dessa rede e os investimentos que estão sendo feitos se não for para criar uma mídia social. Ah! Não falei na diferença entre mídia e rede social.

O Roberto Cassano, que navega no marketing digital antes mesmo do termo existir, outro dia estava propondo a distinção entre mídia social e rede social. A primeira seria, grosso modo, um espaço criado para produzir influenciadores e promover marketing enquanto as redes seriam para a interação entre pessoas. Como era o Twitter até 2014 aproximadamente.

A Bluesky foi incorporada como uma corporação de utilidade pública em 2021, funcionando como uma organização com fins lucrativos, mas sem a exigência legal de colocar os interesses financeiros dos acionistas acima de todas as outras preocupações.

Fonte: Forbes (idem anterior)

Sei que pode parecer um papo meio utópico e ingênuo, mas talvez esteja na hora de deixarmos de aceitar sermos produto de mídias sociais (do YouTube ao TikTok passando pelo Gmail e o ecossistema Facebook) e passar a usar modelos de negócios que criem redes sociais. Já falei um pouco a respeito também no post sobre como o Signal se mantém.

Outra preocupação é se as ideias que o Bluesky propõe são mesmo boas.

A verificação da conta conectando-a ao nosso site pode ser um tanto elitista e definitivamente não é segura. Alguém pode criar um domínio @menedecarbono.com.br e dizer que sou eu (troquei um M por N). Além disso tenho visto bastante gente por lá registrando um domínio só para esconder o bsky.social. Entramos no site da pessoa e não existe. Não sei ainda se isso é bom, ruim ou irrelevante.

Ter um nome só em todas as instâncias pode ser mais simples, no entanto também promove um certo culto à personalidade. Gosto de ser apenas um Roneyb na federação Mastodon e que possa existir outros em outras instâncias. Quem entra no meu perfil no Mastodon pode confirmar que sou eu pois o sistema permite que verifiquemos nossos sites de uma forma semelhante à do Bluesky.

Os algoritmos e moderação modulares também podem acabar se mostrando um problema muito mais que uma solução.

Os convites. A instância bsky.social afirmou que sempre será acessível apenas para convidados, ainda que venha a distribuir muitos por dia e a intenção é manter um banco de dados de todas as conexões para desestimular a entrada de robôs. Entretanto isso também é uma boa forma de aumentar as possibilidades de capitalização em cima dos usuários e dificilmente poderá ser imposto a outras instâncias ou mesmo será eticamente aceito esperar que outras instâncias sigam o mesmo padrão.

Outras preocupações

Acima estão as preocupações em relação ao sistema, mas também temos que nos perguntar sobre a cultura da rede.

Grande parte da cultura não depende dos desenvolvedores, ainda que em uma rede federada cada instância possa, sim, impor suas regras e quem não gosta pode ir para outras instâncias que lhes agradem mais.

Por exemplo, quem gosta de publicar pornografia tem que ir para uma instância que permita isso. Quem não gosta de ver é só não seguir os usuários daquela instância (ou de outras) que publicam pornografia. Podem até bloquear a instância inteira.

No momento a cultura que podemos analisar é a da instância bsky.social e ela parece ser bem semelhante à do Twitter atual.

Nas configurações pode-se optar por ver, ocultar ou alertar para conteúdo de ódio político, sangue/violência, spam etc. Aparentemente a instância aceitará pessoas que publicam esse tipo de conteúdo contando com algum tipo de algoritmo para esconde-las de quem não quiser ver. O que pode dar errado, né? (contém ironia).

Aparentemente a política de convites também mudou: parece que os primeiros a entrar receberam 100 convites ou mais e atualmente é liberado um convite a cada semana. Isso causa um desequilíbrio nas conexões da rede, mas o grande problema é que, junto com outras posições dos responsáveis pela instância, dá a impressão de uma falta de intimidade com redes sociais e isso pode complicar bastante a construção da cultura da rede. Felizmente isso tudo pode mudar quando, e se, liberarem o código para que qualquer um possa criar suas instâncias. Bem… pode piorar tudo também.

Redes federadas também tem normas que se aplicam à federação como um todo, ou seja, se uma instância que se recusa a moderar ou mesmo banir usuários que violam as regras mínimas de convívio social, pode ser excluída da federação e desaparecer como se tivesse sido tirada do ar. Quem quiser acessar os conteúdos daquela instância terá que entrar diretamente nela. Isso pode apresentar vários desafios futuros como a fragmentação em várias federações… Talvez uma Klingon e outra United Federation of Planets ;-P

A questão é: os gestores das instâncias federadas do BlueSky estarão prontos para enfrentar esses desafios?

Mas vamos à parte mais importante: a cultura que as pessoas estão construindo na rede.

É outra área ainda muito aberta para ir além de hipóteses, mas por enquanto tenho visto a tentativa de reproduzir lá o Twitter sem o Elon e o Twitter já estava muito ruim bem antes do Elon. Quanto mais ele buscava dar lucro, quanto mais as pessoas o procuravam para se lançar no mercado, mais perdia seu caráter de rede social tornando-se uma mídia social. Tudo começou a degringolar de vez justamente quando foram acrescentados algoritmos.

Penso que, se a comunidade BlueSky se permitir cair na cultura do produtor de conteúdo / influencer, a rede se tornará tão tóxica quando o Twitter.

Alguém no Mastodon até estava comentando que pensa que existe espaço para as duas: uma federação ActivityPub para as pessoas interagirem e outra AT para tentarem desesperadamente se vender (o desesperadamente é por minha conta).

Francamente eu acho que isso não está dando certo: a profissão de influencer. Acho que as pessoas estão se escravizando ao trabalho em vez de ter um contrato justo com os anunciantes, mas isso é assunto para outros posts.

Falta também transparência. Um about explicando o modelo de negócio e com um relatório sobre a fonte de recursos (apareceu umas semanas depois desse post) para desenvolver e manter o projeto é muito importante para que possamos confiar nele e é algo bem simples de apresentar se estiver tudo em ordem.

O que devemos nos perguntar talvez seja se queremos um outro Twitter. Se queremos mais mídias que reúnem centenas de milhões de pessoas ou mesmo bilhões e se tornam um verdadeiro campo de batalha de algoritmos tentando conquistar as 24h que temos no dia, nosso consumo, nosso viés político.

Considerações finais

O que ecoa insistentemente na minha mente é: para que outra rede federada? O que falta no protocolo ActivityPub? O que o AT oferece é melhor? É viável? Permitirá instâncias leves que pequenos grupos de pessoas ou mesmo uma pessoa sozinha seja capaz de manter (pensando em custo do servidor)?

Não consigo ver uma resposta convincente para isso, mas sequer existe uma federação AT ainda, então posso estar muito errado.

A outra coisa que me incomoda são os detalhes essenciais do modelo de negócio. Qual é a intenção dos criadores? Que tipo de retorno é prometido aos investidores? Isso pode definir mais fortemente a rede do que todo o restante.

Se eu não fosse um explorador por natureza não estaria lá e esperaria amadurecer pelo menos até o ponto em que o Mastodon está hoje.

Fontes

Atualizando: Dezembro de 2025

Antes de mais nada: Notei que nunca adicionei a esse post a ponte que permite a integração entre o Bluesky e a maior parte do fediverso (que usa ActivityPub): Você pode integrar Bluesky e ActivityPub em duas vias com a ponte Bridgy.

Dito isso…

O Bluesky continua assumindo o papel do Twitter de 2022, ou seja, uma plataforma basicamente para comércio de influência para onde vão jornalistas e, claro, influenciadores.

A promessa de rede social distribuída continua muito distante apesar de uma injeção de capital de 15 milhões de dólares ainda ano passado (parte vindo de empresas de criptomoedas, o que deixou muita gente preocupada). Pelo contrário, a plataforma fala em assinaturas pagas para obter privilégios, o que é totalmente incompatível com uma rede distribuída e descentralizada em que qualquer um pode estabelecer a sua instância e fazer parte do todo de forma transparente.

Tudo indica que a missão do Bluesky é mesmo ser uma nova bigtech de microbloging centralizada que substitua o desfigurado Twitter.

Atualizando: Novembro 2024

Clique para ir direto para a Conclusão.

Ele está crescendo rapidamente conforme ocorre uma migração em massa do X (vamos aceitar que não existe mais Twitter há dois anos). São principalmente grupos marginalizados em plataformas de caráter fascistas: Jornalistas, pesquisadores, coletivos identitários etc.

O que pode parecer bom a princípio acaba apenas transferindo o campo de batalha ideológico do X para o Bluesky reproduzindo lá o que já vinha tornando o X (e até o Twitter há alguns anos) hostil para as interações humanas.

Receio, e aqui é uma opinião minha, que esse tipo de campo de batalha só favorece o caos e o fascismo. Já tenho observado no Bluesky que as vozes progressistas ou antifacistas praticamente só repetem as histórias que gostariam que… bem, não fossem espalhadas, e falam muito pouco dos remédios, das próprias pautas: a batalha volta a se dar no campo do humanismo e o fascismo se alimenta.

E os recursos da plataforma?

Para absorver os conflitos seriam essenciais recursos de privacidade, no entanto…

  • Não é possível fechar o perfil para aprovar novos seguidores
  • Não é possível restringir as publicações apenas para seguidores
  • Sequer parece ser intenção da plataforma implementar melhorias de privacidade. Minha impressão é que o caos e o conflito geram engajamento e isso interessa à plataforma

Os problemas poderiam ser amenizados se fosse possível criar a própria instância, a tal “rede distribuída e descentralizada” que era um dos carros chefe no início. Como é um conceito estranho para muita gente, explico:

Em uma rede descentralizada, se o nó da rede onde você está (o bsky.app) se torna hostil você pode mudar para outro com regras mais civilizadas ou até criar seu próprio nó integrado à rede.

O Bluesky descentraliza apenas os repositórios de dados, mas tudo continua centralizado em um único nó, o bsky.app. Além disso o custo para manter um nó (composto por armazenamento e relay, abstraia, só considere que são duas coisas) é astronômico. Só de espaço em disco vem subindo e está em 5TB e espera-se chegar a 10TB em pouco tempo.

Isso acontece porque, fazendo uma analogia com cartas de correio, o sistema funciona de tal forma que é como se todas as cartas enviadas a você, aos seus vizinhos, para os bairros próximos, fossem copiadas e armazenadas em cada casa. Você teria que ter um silo do tamanho do somatório de todas as cartas trocadas na cidade.

O sistema só é viável para grandes empresas ao contrário de outras tecnologias. Eu mesmo mantenho dois nós de uma rede social distribuída e descentralizada. Esse site é um deles.

Anteriormente eu disse que era possível integrar o Bluesky a outras tecnologias de redes distribuídas. Eu mesmo tinha feito isso, mas essa semana desfiz e explico porque.

Primeiro uma informação um pouco técnica: tudo que acontece dentro do Bluesky, de mensagens abertas a mudanças de handle, avatar, bio, conexões e desconexões sociais, é armazenado em um único lugar central chamado Firehose. É… o mesmo nome da estratégia de desinformação que consiste em afogar as pessoas em histórias que se contradizem. Péssima escolha de nome ou talvez ato falho. Atualmente o Firehose é aberto a praticamente qq um para ser vasculhado. Ainda essa semana foi revelado que mais de um milhão de posts foram coletados para treinar IAs, apesar da Bluesky ter dito que não faria isso. Bem, ela não disse que não deixaria outros fazerem.

Some-se a isso a questão de ter virado um campo de batalha e heis o que aconteceu:

Essa semana publiquei lá uma pergunta sobre qual “Twitter de antigamente” o Bsky seria, afinal o Twitter teve pelo menos três fases bem distintas.

Quase imediatamente esse meu post, sem hashtags, de uma pessoa com apenas 100 seguidores, foi republicado por um perfil sem publicações, mas ligado a uma comunidade fascista, homofóbica, transfóbica (o menu inteiro) e que declara abertamente ser inimiga do Bluesky, refúgio de tudo que eles odeiam.

Veja bem, eu me exponho nos meus blogs há mais de 22 anos. Já comprei briga com os seguidores de Olavo de Carvalho, com bancada da bala etc. Mas nunca me senti tão exposto.

O perigo de grupos de ódio terem acesso ao seu grafo social (um mapa de tudo que você publica e das suas interações) é um perigo enorme! E não só para nós, mas para quem interage conosco também.

Apaguei praticamente todos os posts que eu tinha publicado lá e desconectei minha conta na Federação para que esses dados não fossem sugados para o Firehose. Hoje as pessoas do Bluesky não podem seguir mais meus perfis em outras redes.

Essa atualização ficou muito grande, me desculpe, mas acho que os alertas são necessários para chegar à…

Conclusão

O Bluesky caminha para ser uma um campo de batalha entre fascistas e antifas, o que provavelmente só alimentará o fascismo na rede. Pode ser interessante para quem quer participar ou assistir esse confronto dentro dos mesmos modelos que ocorriam no Twitter nos últimos anos. Também predomina uma cultura influencer com muitos seguidores, algum engajamento, mas bem pouca interação ou diálogo (sempre há bolhas mais saudáveis, claro).

A plataforma não demonstra interesse em se tornar aberta, distribuída ou descentralizada. Também não parece querer assumir a responsabilidade de moderação, que deixa por conta dos usuários, ou de garantir recursos para privacidade.

Atualizando: Setembro/2024

Um ano e três meses se passaram desde a última vez que analisei o BlueSky e atualizei esse post.

Muito embora continue demonstrando que é uma empresa com aportes de capital certamente astronômicos, dados os investimentos em assessoria de imprensa, a impressão é que não são investidos muitos recursos no desenvolvimento da plataforma, que continua sendo uma federação de uma única instância, o que certamente teria que ser a primeira promessa a ser cumprida a caminho de um novo modelo de Rede Social.

A entrada repentina de quase 3 milhões de usuários egressos do X-Twitter, que Elon Musk se esforçou para bloquear no Brasil, é um problema sério pois impõe a cultura dominante daquela plataforma, que já vinha ruim há anos e piorou muito. Vemos hoje do BlueSky pessoas falando em vitrines. É muito raro achar um post com comentário. A menos que a pessoa tenha dezenas de milhares de seguidores ou que o post esteja “hitando”. Uma possibilidade é que esteja se reforçando o perfil de mídia social da plataforma em que as pessoas falam na esperança de serem ouvidas, mas se dedicam pouco a interagir formando uma rede social.

Mas vamos em tópicos que fica mais rápido de ler.

Novidades:

  • Agora existem listas que nos permitem agrupar quem seguimos entre amigues, jornalismo, meio ambiente e influencers por exemplo;
  • Apesar de ter dito que seria sempre uma rede por convites isso foi abandonado e qq pessoa pode se inscrever;
  • Tem DM (mensagem privada);
  • Pode publicar GIFs e prometem vídeo muito em breve;
  • É possível descrever as imagens ao publicá-las (acho que já podia em junho/23, mas esqueci de listar). Isso também é essencial em redes sociais que se proponham inclusivas.

Problemas que persistem ou novos:

  • Continua sendo uma rede federada de uma instância só;
  • Continua não sendo possível bloquear apenas reposts de uma pessoa que seguimos (tem gente que reposta DEMAIS e isso ajuda muito);
  • A moderação, apesar de ser uma prioridade de acordo com os administradores, ainda depende de IA que classifique os posts e da ação do usuário criando “listas de exclusão”;
  • Não existe nenhuma instância além do BlueSky (isso é muito ruim);
  • Continua não existindo uma busca por hashtag;
  • Com a migração de cerca de 3 milhões de brasileiros do X-Twitter o modelo “mídia social” está se intensificando, mas é algo que só poderia ser evitado se já fosse uma rede federada;
  • Continua obscuro como ela dará lucro.

Atualizando: Junho/2023

Já se passaram mais de 2 meses que escrevi esse post e… praticamente nada mudou. O que mudou pode ter sido para pior. Vou atualizar sempre essa sessão mantendo os tópicos que permanecem e os que mudaram.

Problemas ainda atuais

  • Listas foram implementadas, mas não para dividir sua timeline em grupos de interesse como Jornalismo e Música, mas para silenciar quem você não quer ver. É até estranho pensar em pq isso. Não basta não seguir ou bloquear? Entendo como mais uma forma de dar liberdade aos usuários antissociáveis deixando por conta dos outros usuários marcá-los em listas que são públicas. O que pode dar errado, né? (contém ironia)
  • O sistema de moderação classifica os posts usando a tecnologia de IA de uma empresa chamada Hive. Eles dizem não comprometer a privacidade e nem usar o conteúdo para treinar aquela IA. Não acho confiável, mas talvez o pior seja que é mais um sinal de que tudo será permitido por lá, ou seja, a IA, se tudo funcionar 100%, marcará publicações de “ódio político”, por exemplo. Esse conteúdo não será desestimulado na rede cabendo a cada pessa definir se quer ver, quer um aviso ou que bloqueie o conteúdo para ela.
  • Qual é a dificuldade de implementar uma busca por #Tag? Continua não existindo.
  • A injustificável escassez de convites continua.
  • O ambiente da comunidade aparentemente continua caminhando para formar mais uma mídia social, mais um lugar para as pessoas se venderem, criarem personas comercialmente interessantes.
  • Não existe mensagem privada.
  • Não é possível bloquear só o reposts ou retuites das pessoas.

Problemas resolvidos

  • Agora existe um Terms Of Service do BlueSky, mas continuo não conseguindo acessar pela interface e está em um domínio estranho, .xyz. Link para o TOS acima.
  • A “loja de algoritmos” apareceu na forma de filtros ou listas que criam timelines que obedecem a certos critérios como “Publicado por gente que me segue” ou “Publicações de cientistas”. Não é claro até que ponto são filtros ou listas manuais e não chega a ser uma solução para algoritmos, mas pelo jeito é o que tem para hoje.

Comentários

Uma resposta para “Bluesky, um resumo”

  1. […] vendendo? O que ele pretende vender no futuro?” (a última pergunta é para iscas como o Bluesky – post […]

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