Cheguei em casa depois de uma noite mal dormida no ônibus e uma semana quase sem comer ou dormir: me entreguei à imersão na cibercultura.
Antes de dormir, naturalmente, olho o Twitter (seis horas sem saber dos amigos!) e acabo instigado pelo Evidente, pelo Lesilva e pelo Cristianoweb a dizer porque acho que o Campus Party foi tão importante.
O evento se resume a duas coisas:
- Mais de 6 mil pessoas jogando, baixando músicas, filmes e jogos e frequentemente se expondo em um tipo de big brother
- Centenas de palestras, geralmente ruins, sobre quase tudo a respeito de cibercultura, computação e tecnologia
É claro que há momentos históricos como a criação do primeiro robô de código livre do mundo (até hoje não havia licensa de código aberto para hardware, agora haverá) cujo impacto talvez só fique claro em alguns anos ou os brilhantes discursos de Ronaldo Lemos e Sérgio Amadeu ao defender a Internet como um meio para uma nova forma de democracia onde temos direito de ter nossa própria voz. Mas quase ninguém estava atento a isso.
Quem vai à Campus Party vai pela curtição
Então eu me pergunto: e daí?
Woodstock foi um marco na mudança da nossa civilização para algo muito mais democrático e tolerante (ainda espero o dia em que deixaremos de tolerar para passar a admirar as diferenças), mas quem foi queira ouvir música, se trocar e fazer sexo adoidado.
Transformações sociais acontecem quando grupos sociais interagem e a Campus Party é o maior caldo de cibercultura do mundo. Ali um bando de gente de todos os tipos está experimentando novas formas de interlocução (cibercultura é interlocução) e forçando os limites da moral desta nova cultura.
Um dia um milhão de pessoas foram às ruas com as caras pintadas para zoar com os amigos e… tinha outra coisa… Ah! Pedir a renúncia de um presidente. Hoje somos muito diferentes e nossa democracia (ainda frágil) amadureceu.
A beleza da evolução das sociedades é que elas acontecem sem que a gente perceba. Como foi que a gente voltou a poder votar no Brasil por exemplo? Qual foi o momento de quebra de paradigma que fez surgir a semente do desejo de votar entre a sociedade?
A Campus Party é uma grande tolice. Ela é financiada por grandes corporações (até porque se elas perderem essa oportunidade acontecerá sem elas). Ela não é politizada. Mas não precisa.
Toda reunião de pessoas em torno de uma cultura alimenta essa cultura e o que alimentamos na Campus Party envolve compartilhamento, colaboração, conhecimento como patrimônio da humanidade e novas formas de cidadania. Mesmo que seja difícil de notar à primeira vista.
A nós, que desejamos que o mundo se transforme mais rapidamente (por mim seria ótimo se mudasse instantaneamente) cabe o trabalho de refletir sobrre essas mudanças e ecoá-las.
Uma nova cultura, inspirada na cibercultura que por sua vez é nitidamente uma evolução dos ideais hacker criará o clamor popular que nos fará renovar conceitos de escola, justiça, democracia, política e até consciência.
Woodstock é um belo exemplo de comparação!
Acredito que uma boa parte das pessoas que foram ao Campus Party só queria saber mesmo é da conexão ultra-veloz e baixar o que pudesse dentro de uma semana. Isso é comprovado pelos inúmeros artigos e updates em Twitter que mostravam os check-lists do que levar ao evento e sempre tinha Hard-disk mega gigantes neles!
Outros estavam lá por quê podem ir e vir aonde quiserem, como quiserem sem o menor compromisso com nada. Estavam mais pelo “hype”.
Mas haviam pessoas sérias que estavam a fim de fazer história! Queriam inovação, revolução! Para essas, o fato de unir inúmeras cabeças pensantes e de diferentes culturas foi uma grande oportunidade de se escrever com letras em “Caps Lock” que “estamos criando uma nova sociedade”! Mas a questão é “para quem?”
A maioria da população, quando ouve falar no Campus Party acha que é uma Lan-House gigante! Só faltam perguntar se o ingresso de 1h custa R$ 1,00!! Ainda faltam muita educação para o nosso povo! E quando eu falo em educação, não estou falando de apenas “português, matemática e ciências” só não. Estou falando no sentido mais amplo da palavra. Conhecer para mim significa crescer, ascender, evoluir. Deixar de ser uma pessoa para ser outra melhor, mais atenta aos detalhes do mundo!
De qualquer forma eu acredito que para muitos de nós, a Campus Party por mais desconhecida que ela seja ao grande público, ela nos mudou realmente! Não vemos mais as coisas como antes. Cabe à nós absorvermos o que há de melhor em eventos como esses e tantos outros que freqüentamos e abrirmos a discussão sempre. Como sugeriu a nossa amiga @pathaddad, criarmos pautas de sugestões para que os eventos sejam cada vez mais participativos e democráticos para todos nós e a sociedade em geral. E quem sabe nossos filhos ou netos irão colher os frutos, ou arquivos digitais da cultura democrática que pregamos?!
Parabéns pelo artigo!
Abraços 😀
Fazendo o papel de advogado do diabo contra mim mesmo (inspirado pelo Nepomuceno): e se der tudo errado? E se o que essa turba de precursores da cibercultura avançarem sem rumo algum usando a velocidade da TI para reproduzir mais rapidamente do que nunca o que há de pior em nossa civilização?
Temos que pensar sobre isso…
YAY! Gostei de viver essa aventura por aqui, risos!
Uma pessoa do meu trabalho conhece uma menina que foi lá para palestrar sobre o blog dela, risos.
Que coisa! Espetacular… da próxima eu vou!
Bjocas,
Vivi
Será que conheço sua amiga? Qual é o blog dela?
Puxa, agora vc me pegou. Pq na verdade a menina do blog é amiga da pessoa que trabalha comigo. Vou perguntar para ela hj. =)
Bjocas!
Olha só quantos dias até conseguir vir aqui ler… Veja, vc tem ampla razão. Sim, pode ser que nada das nossas aspirações se concretizem, e que do que viamos no CP sobre apenas o Red Bull e a toca do Axe. Mas já é concreto um fortalecimento de contatos prévios ou o estabelecimento de novos, que ampliam as possibilidades de termos mais gente se posicionando em nome de tornar a Rede um lugar em que se difundam boas iniciativas (pela educação, pela democracia, pela saúde, pela cultura, pela ética, pela melhoria de vida, pelos cuidados com o planeta, etc). Nossa ausência contribuiria ainda menos para isso, concorda? É preciso marcar posição. E para isso, precisamos nos fazer presentes.
abços
É bom receber seu comentário aqui!
Uma das melhores coisas na Campus Party ao meu ver é que todas as tribos se sentiram à vontade e com todo mundo junto podemos criar uma cibercultura mais abrangente.
Com certeza a gente vai se encontrar por lá ano que vem novamente!! Só espero que dessa vez eu lembre de me barbear e me apresente mais decentemente! 😉