Jornalistas sem diplomas

por

in

Apesar do poder da Internet a mídia offline continua sendo centenas de vezes mais importante na criação, propagação e mutação de memes e, atrás das cortinas da mídia estão os jornalistas (e roteiristas, produtores de cinema… mas essa é outra história) portanto não posso deixar de falar nisso aqui no Meme de Carbono.

Ontem o supremo tribunal federal derrubou a obrigatoriedade de ter um diploma em comunicação para exercer a profissão de jornalista.

Isso é bom ou é ruim?

As reações são, com toda razão, marcadas pela emoção e insatisfação de quem passou anos na faculdade e agora se vê obrigado a competir com um universo muito maior de pessoas.

Tenho mais perguntas do que respostas sobre esse assunto, mas, correndo o risco de contrariar muitos amigos (a blogosfera está cheia de jornalistas diplomados) o intenso #mimimi me desperta maus pensamentos.

Será que os temores são fundados? Um jornalista formado em comunicação terá dificuldades em concorrer com médicos, biólogos, historiadores ou mesmo leigos que se aventuram a  escrever sobre os mendigos do próprio bairro?

Se essa ameça é real não será bom para nós, leitores, que essas pessoas possam escrever notícias?

Principalmente nas áreas técnicas como física, astronomia, medicina, biologia, antopologia, psicologia… a obrigatoriedade de diplomas de comunicação pode ser responsável pela mediocridade dominante.

Não seria o caso de haver obrigatoriedade de dois diplomas para escrever sobre um determinado assunto? Um de comunicação e outro da área específica?

É fácil compreender a obrigatoriedade de um curso formal para ser médico, engenheiro e astrofísico apesar de algumas das maiores descobertas da astrofísica pertencerem a amadores apaixonados e os computadores pessoais serem obra de engenharia de um auto-didata (Wozniak).

E na comunicação? Que conhecimentos só podem ser obtidos na universidade?

A propósito, e a validade do diploma? Podemos confiar nos diplomas de comunicação? Sei que há até mesmo médicos (área, convenhamos, exponencialmente mais complexa do que jornalismo) que fazem a faculdade no bar da esquina e vão dando um jeitinho de passar até obter o diploma.

Outra pergunta que devemos nos fazer é “Por quê a obrigatoriedade do diploma de comunicação foi derrubada?

Até o momento só vi o @ocktock se fazer essa pergunta… e responder em seu blog (linkado no parágrafo acima):

É claro que essa história da queda da obrigatoriedade é “testa de ferro” para desviar os olhos dos jornalistas de outros assuntos que ocorrem por trás das cortinas de ferro da política brasileira

Este é um alerta importante.

Nossos amigos jornalistas estão sendo manipulados e, egos pela emoção, deixam passar uma oportunidade de mostrar sua força, articulação e, principalmente, que um jornalista não se deixa iludir por artimanhas maquiavélicas?

Resumindo as perguntas que foram surgindo no calor do meu texto e acrescentando mais algumas:

  1. De que forma os jornalistas formados serão ameaçados pela concorrência não qualificada?
  2. Se hoje o QI é grande determinante como alguns me disseram, que importância tem o diploma?
  3. Já não seria hora de deixar de aceitar o estabelecimento de maus jornalistas graças ao QI?
  4. Quais são as reais intenções por trás da derrubada da obrigatoriedade do diploma?
  5. Não é verdade que essa obrigatoriedade foi criada na ditadura para controlar melhor os jornalistas? Ela ainda é necessária?
  6. Será uma boa idéia lutar não pela obrigatoriedade de apenas um, mas de dois diplomas para exercer a profissão de jornalista? Um em comunicação e outro na área específica de atuação?
  7. Será que comunicação e jornalismo não deveria ser uma pós graduação?
  8. Será que não podemos aproveitar a abertura para criar novos canais de jornalismo na blogosfera onde jornalistas amadores disputam com os formados? E isso não seria bom para melhorar a qualidade do jornalismo como um todo? Isso me faz lembrar do overmundo.

Comentários

11 respostas para “Jornalistas sem diplomas”

  1. Bom, eu sempre defendi a tese de que a graduação não prepara ninguém para carreira nenhuma, apenas REPARA a falta de formação anterior. Melhor seria se todos os profissionais fosse credenciados e pós-graduados, como acontece na medicina e suas especializações. Mas, para tanto, teríamos que mudar quase tudo na sociedade; quanto ao jornalismo propriamente dito, creio que o STF acabou de sepultar a mídia impressa no Brasil. Agora, sem reserva de mercado, é que a blogosfera vai mandar.

    1. É uma honra receber seu comentário aqui! Faz muito tempo que admiro a clareza das suas idéias!

      Estou realmente em dúvida sobre tudo isso. Fiz o post justamente para provocar opiniões e talvez um debate, mas tenho achado que o que tem destruído a mídia impressa no país tem sido muito mais a resistência à mudança e a contaminação da ética pelos interesses comerciais… Não vejo por enquanto como o fim da obrigatoriedade do diploma possa agravar a situação.

      Por outro lado gosto muito da idéia de uma blogosfera com qualidade jornalística 😉

  2. Roney querido, ótimos questionamentos. Ótima reflexão. Alguns jornalistas que leram o meu post podem pensar que sou a favor da decisão do STF. Não, pois minha opinião sobre este assunto não mudará nada na vida de ninguém. Mas certamente sou a favor de duas coisas:

    1. Da liberdade, em especial a tudo que engloba a comunicação;

    2. De acreditarmos sempre em nós mesmos, ainda que a vida, o sistema, o governo ou o que for, coloque-nos em situação que nos faça sentir feridos. Vamos em frente com nosso trabalho, com nossa ética, com nosso talento. O que é um diploma perto disso? O diploma não carrega valores. Acredito em valores muito mais do que num documento.

    Não consigo imaginar problemas na vida dos bons profissionais de jornalismo, diante do cenário que eles encontram a partir de agora. Na publicidade, área correlata ao jornalismo, isso é uma realidade e ninguém deixa de procurar formação acadêmica por isso. E publicitários formados nunca criticaram os não diplomados. Pelo contrário, respeitam e muito. Seria interessante ver um dia o jornalista chegar a este ponto. Eu verei, acredito. Os próximos anos vão me confirmar isso.

    Forte abraço, Leo Bragança.

  3. Salve, mestre Roney!

    Na verdade, nossa querida amiga twitteira @pathaddad já havia feito aquele mesmo questionamento que eu no Twitter, antes de eu postar meu texto lá no blog. Os créditos são todos dela 😉

    Seus questionamentos são instigadores e são um ótimo ponto de partida para começarmos a formar uma opinião a respeito do caso – minha incredulidade nessa história toda, no entanto, vai mais a fundo: por causa de casos anteriores, me pergunto até quando essa queda da obrigatoriedade do diploma vai durar. Se e quando um dia voltar, todo o debate terá sido tempestade em copo d’dágua. Até ele cair de novo, quando todos já terão seus argumentos afiados por conta desta vez que está acontecendo agora, e assim seguirá nossa vida…

    É uma visão um pouco cínica e incrédula do cenário, admito, mas já perdi minha cota de cabelos com este assunto quando a obrigatoriedade do diploma caiu pela primeira vez. Vou sentar e assistir um pouco mais do caso pra ver o que acontece nos próximos capítulos…

    1. Tenho perdido um bocado de coisas no Twitter, mas não me admira que a @pathaddad esteja sempre alerta!

      Acho que os jornalistas tem uma chance de aproveitar a comoção deste momento para pensar em mudanças na área indo além do #mimimi emotivo seguido pela espera de uma nova comoção.

      Gosto da ideia de fazer um site com duas sessões, uma onde só escrevem jornalistas diplomados e outra onde só escrevem auto-didatas sem diploma.

      Isso poderia até ser feito sem rivalidade e sim aproveitando as diferenças para fortalecer os dois grupos. Os jornalistas podem aprender sobre como escrever para o público online ou sobre assumir um tom menos distante enquanto os auto-didatas podem aprender sobre lead, ética e a infinidade de conhecimentos obtidos em um curso formal.

      Quem ganharia seria o jornalismo e os leitores.

      Aliás, como vi muita gente dizendo que o que vale hoje para ser contratado é ter indicação e não diploma ou mesmo qualidade de serviço, que tal os bons profissionais, justamente aqueles que não se vendem e se atrevem a falar contra os interesses dos anunciantes fazerem um tipo que sexto poder? Um site com 5 ou 10 excelentes jornalistas sustentado por adsense e parcerias com lojas online?

      Poderia ser um belo soco na boca do estômago dos jornais tão comprometidos…

  4. Avatar de Paulo Leão
    Paulo Leão

    Não sei até que ponto esse “fim da reserva” resolve alguma coisa ou não, só sei que essa “reserva” tem produzido jornalistas muito fraquinhos. Basta dar uma olhada em qualquer site de notícias online (globo.com, terra.com.br e por aí vai) pra ver a quantidade de erros básicos de português, textos sem sentido, etc. Não vou nem falar de ‘typos’, pois isso qualquer corretor ortográfico básico deveria dar jeito – mas parece que não usam.

    Adicionando mais uma pergunta a sua lista: por que jornalistas têm reserva de mercado e analistas de sistemas não? Você conhece alguma profissão mais prostituída do que analista de sistemas?

    1. Profissão mais prostituída? Médicos? Advogados? Hummm… Políticos? Melhor deixar para lá 😉

      Creio que se os jornalistas não fossem tão mal vistos a opinião pública ficaria a favor deles no caso do diploma, mas realmente a percepção geral é que tem muito jornalista amador trabalhando melhor que os diplomados… Isso sõ acontece pq houve tanta displicência com a qualidade do jornalismo brasileiro que poucos o levam a sério.

  5. Avatar de fabiana pereira dos reis silva
    fabiana pereira dos reis silva

    oiii td bm cm vc bjinhoss rsrsrs *________________*

    1. Avatar de tonaldo reis silva mello
      tonaldo reis silva mello

      oiiii eai td bm cm vc?// rararrararaa

    2. Vcs são irmãos? Kkkk!!!

  6. Avatar de Ionilda Coelho
    Ionilda Coelho

    Escrever é um dom.
    Assim como nascer músico.
    Aperfeiçoar os dons é sinônimo de bom senso.
    Conheço um milionário analfabeto que vem de origem paupérrima. O dom dele era ser empresário.
    Com diploma ou sem diploma o dom é revelado.
    mas na corte dos “certificados” pendurados na parede
    o “apto” é substituído pelo saber fazer.

Deixe um comentário para André Mello Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.