Pare agora! Se você está pensando que vou falar que crianças não devem acessar a Internet pode ir segurando seus impulsos de aprovação ou desaprovação.
Assim como a realidade offline é para todos, todas e todes, também a realidade online é um lugar, continente, planeta ou como preferir com espaços para todo mundo.
A discussão aqui é bem outra: a Internet é dominada, definida, moldada por e para crianças?
Digo isso por causa do artigo Em 2023, Os millenials ficaram velhos para a Internet? que uma amiga mandou por DM (é uma tradução do artigo The Year the Millennials Handed the Internet Over to Zoomers, por Max Read).
Estou colocando esse post na sessão Gotas, que é como um clipping com comentários rápidos, mas… bem… os comentários que tenho não são tão rápidos.
Antes, para contextualizar, estávamos falando sobre como estivemos muito presentes nos primórdios da Internet social (e até antes nos tempos dos BBS no século passado) e hoje a Internet não nos parece mais atraente. Já não entramos em cada rede social que surge curiosos com as dinâmicas das comunidades por lá, com as amizades que vamos cultivar, as trocas que vamos fazer.
Por um lado o artigo sugere que a Internet é sempre dominada pela geração jovem da vez e ela molda os memes, os códigos linguísticos e culturais. Por outro ele também parece sugerir que perdemos o interesse na socialização online quando “envelhecemos” (entre aspas pq acho que é um conceito bastante discutível. Quantos anos vc acha que eu tenho? Ou melhor, te pareço jovem, adulto, velho, muito velho?).
Tenho falado nisso aqui mesmo há bastante tempo.
Em 2012 refleti sobre se nós seríamos todas hiperconectadas e já alertava para a necessidade de termos que aprender a lidar com um fluxo interminável de estímulos. Nós, que estamos há muito tempo nessa “selva cibernética”, conhecemos um monte de fontes de estímulos que foram abafadas pelos grandes sufocadores (destaque para as redes sociais comerciais mediadas por algoritmos) e é natural estarmos cansados. Além disso é comum tentarmos fazer um esforço até inconsciente para filtrar, mas estamos lutando com algoritmos construídos para quebrar esses nossos esforços e dominar a nossa atenção. Acho que podemos até comparar com os alimentos ultra processados, projetados não para alimentar, mas para nos levar à compulsão alimentar.
Também falei até bem recentemente em como os algoritmos corrompem as redes sociais (2023). Voltando um pouco para 2019, mas ainda no tópico dos algoritmos-vórtex-de-atenção teve um papo com uma pesquisadora sobre O ciberespaço em contraste ao real e relações mediadas por algoritmos, que tem inclusive uns pontos a revisar, mas é útil para as reflexões sobre Internet e faixas etárias.
Avançando para 2021 e para outro tema, fenômenos coletivos que surgem espontaneamente em períodos de intensas transformações sociais, culturais, científicas etc, temos A Prisão Invisível que ameaça a civilização (e a você também).
Pronto! Teria mais post a citar, mas já sinto que preciso me desculpar por essa enxurrada em um post que é, principalmente, sobre o problema da enxurrada de estímulos! (e ainda vou colocar meus comentários ao artigo! Foi mal!)
No entanto achei necessário para deixar claro que a questão é multidimensional, multidisciplinar e não podemos nem achar que existe algum tipo de controle absoluto sobre nós online (e offline), nem que não existem formas de nos influenciar tanto para o consumo quanto entre vieses políticos.
Bem, espero que isso baste para que os meus comentários ao artigo façam sentido.
Meus comentários ao artigo
Dispositivos de busca: uso o DuckDuckGo, que dá melhores resultados, mas acho que é mais eficiente ir direto onde sabemos que vamos encontrar um artigo de qualidade sobre o que estamos nos informando. Se é ciência tem a Scientific American e sites de publicações científicas, se são notícias geopolíticas tem um grupo de fontes jornalísticas em que confiamos (o que não quer dizer que sejam confiáveis) e por aí vai. Sei que muita gente busca no YouTube ou no TikTok, e não acho de todo ruim, mas são mediados por algoritmos, o que força os produtores de conteúdo a uma estrutura e apresentação que muitas vezes não priorizam a qualidade da informação. É que nem alimento ultra-processado, cujo objetivo não é alimentar, mas dar lucro. Os conteúdos dessas plataformas tem o objetivo de agradar os algoritmos, que, sabemos, tem sérios problemas.
Estamos envelhecendo… Não sei se concordo… Acho que o modelo dos algoritmos de 2014 para cá (e até um pouco antes, mas o post em que notei isso no Facebook é de 2014) é que tornou as redes sociais tóxicas. O jornalista fala no prazer de conhecer o jeito de uma nova rede social e isso já não é mais legal porque ele está velho. Bem, estou mais velho que ele, sou X, né? E tô adorando me entrosar no Fediverso. A diferença é que é uma rede de redes centradas nas pessoas, não comerciais e sem algoritmos (ainda que nada impeça que se façam instâncias comerciais e com algoritmos, que é o que acho que vai acontecer se ele atingir massa crítica e será interessante ver a convivência dessas galáxias no fediverso).
O Skibidi Toilet foi para o meu clipping, que agora chamo de Recursos pq adotei o método PARA de organização do conhecimento: Projetos, Áreas, Recursos, Arquivo.
“Perturbador, infantil (a geração alpha está na faixa dos 10 anos), distópico, violento e simbólico de uma forma que deixa espaço para qualquer tipo de interpretação. Quem é bom? Quem é mal? O que é bem e mal na série? Nessa idade a visão maniqueísta é útil para formar algumas bases para identificação do mundo. Me parece que o mal é mal por ser tão somente “o outro lado”. Como a divisão entre púrpuras de verdes que vemos em um episódio de Babylon 5. Muito embora o líder dos vasos skibidi seja um vilão e ele tenha o objetivo de transformar todos em vasos skibidi… Enfim… Acho que vale notar que as telas algumas vezes são usadas como armas pelas duas facções e tem o efeito de paralisar ou mesmo controlar o outro.”
@Roneyb
“as plataformas movidas a engajamento sempre cultivaram os influenciadores…” Em 2008 eu alertava que o problogging era capcioso, que o conteúdo acabaria sendo definido pelo cliente real: o anunciante. E não pelo público alvo. Então, de certa forma concordo com a observação acima do artigo, mas na época as plataformas não eram movidas a engajamento e sim quem queria viver de vender seu conteúdo para anunciantes. Depois as redes sociais comerciais (Facebook, YouTube, Twitter etc) absorveram em grande medida a Internet inteira. Até mesmo quem produzia conteúdo em seus próprios domínios (como blogueires e jornais) acabou se ajustando aos algoritmos do Google e Metas da vida na busca por engajamento.
Prefiro merdificação para traduzir shitfication. Enlixamento é coisa dessas IAs burras ;-P
“E então os zoomers, como os millenials, se sentirão da mesma forma que os boomers andam há décadas: irritados e desconfortáveis ao computador.” Me parece que a questão é mais geracional que da Internet. Acho que tem, sim, uma discussão muito séria para fazer sobre o que ele chamou de Internet Comercial e sobre para o quê os algoritmos estão sendo programados. A combinação dos dois gera um tipo de Internet Ultraprocessada (como os alimentos Ultraprocessados), que precisa mesmo ser salva (e estou para ler o livro do Cory Doctorow (só li Cinema Pirata dele) que pretende mostrar caminhos para desemerdalhar da Internet), mas creio que precisamos de outra reviravolta cultural como aquela que vimos entre os anos 90 e 2010 mais ou menos…
Agora que vi que não comentei sua observação da mudança de comportamento dos 40+, que era o ponto central do artigo! Hahahaha! Foi mal! Tenho que pensar e observar um bocado ainda para ver se essa mudança será para melhor, pior ou somente diferente, né? Ainda não tenho uma resposta para isso… Mas acaba de me ocorrer uma ideia: observar para onde estão indo… Netflix? offline? Mensagem instantânea?
Estava fazendo esses comentários com a amiga por DM e ela replicou com alguma coisa sobre ser um alívio passar um tempo desconectada e como tem procurado restringir suas fontes de informação (algo que também faço e recomendo, aliás). Deixei de comentar o artigo, mas acho que vale a pena transferir para cá.
Nada de errado no que vc disse! Pelo contrário, é que são muitas camadas, né? Além disso tem os nossos primeiros pensamentos, que vem da nossa experiência pessoal e só depois a gente coloca essa voz um pouco de lado para tentar entrar em sintonia com a experiência das outras pessoas…
Fazendo aqui a retrospectiva da minha própria experiência, em outubro de 2022 eu tava cortando o Google. Lá pelo final de 2020 e início de 2021 eu estava me afastando das redes sociais comerciais. Voltando mais um pouco me acho vivendo uma relação totalmente tóxica com a guerra psicológica criada pelo fascismo ou pelos engenheiros do caos (para citar um termo útil para pesquisa, já que tem um livro com esse título que foi comentado inclusive pelo Normose (YouTube)). Acontece que meu caso é bem outro. Nem mesmo me afastei por ter alguma sabedoria, foi mais por não ter forças e, principalmente, pq os dois primeiros anos da pandemia exigiram muito de mim para cuidar da minha sogra e do meu cunhado. Então… Minha primeira reação ao que vc escreveu foi algo como “Mas temos que estar online pq vozes mediadoras, questionadoras etc precisam estar online para fazer o contraponto à insanidade”. Só que eu mesmo não estou online fazendo o contraponto à insanidade hahahahaha! E a minha decisão de recomeçar a fazer conteúdo não envolve essa pretensão, sabe? Pretendo não seguir as normas dos algoritmos dessa rede (Instagram) e o máximo que penso que vou alcançar é algumas dezenas de contatos e talvez umas poucas centenas de contatos de contatos. Bem menos gente que atinjo no blog, com certeza. Minha volta não é pelo mundo, é pelas pessoas que estão na mesma “biosfera” (por falta de nome melhor) que eu, sabe? Porque acho que o mundo nem mesmo é alcançável no ecossistema informacional atual. No entanto fica ainda essa dúvida: se estamos offline (quero café presencial, viu?) o que vai acontecer com o online, que tem forte influência no offline? Ainda acho que a humanidade achará outras formas de se conectar online. Essa conexão já foi muito importante para promover transformações positivas na sociedade até ser contaminada pelo fascismo (e até falei um tanto nisso em dois ou três posts lá no Meme) e acho que precisa ser restabelecida. Agora… Vai ser vc que vai restabelecer alguma coisa? Eu? A nossa geração? Os zoomers? os Alpha (coisa chata esse monte de letra! Qual será a próxima? Beta?). Acho que a gente precisa buscar paz e conexão com o que está próximo de nós! (olha o convite para café aí de novo! Pode não ser comigo, mas acho que devemos procurar mais cafés com amigues!) Esse é o ponto de partida. Sem paz não tem forças para nada.
Acho que esse é um bom final para esse “breve” post ;-P
(Ah! Sou da geração X, filha dos Boomers…)
Imagem: PxHere


Deixe um comentário