Esse post vai ficar enorme…
Hoje tive um compromisso e não pude acompanhar o programa Roda Viva entrevistando o Engenheiro Valdemar Setzer sobre o uso da tecnologia na educação.
Fui informado que o vídeo estará disponível aqui: http://www.tvcultura.com.br/rodaviva/
Só pude acompanhar posteriormente os comentários no Twitter (a cada semana ficará mais difícil achar os de hoje) e no streaming de texto disponibilizado por tempo limitado no Radar Cultura.
Setzer é autor da seguinte frase:
Deixe as crianças serem infantis: não lhes permita o acesso a TV, jogos eletrônicos e computadores/Internet!
Com a qual até concordaria não fosse a clara contradição entre deixar e impedir, ou seja, se a conclusão fosse: leve-as a parques, para brincar na rua ou vá com elas a aventuras no mato.
Seria insensato comentar algo que só vi pelos reflexos online, mas creio que a experiência pode ser interessante então digamos que vou comentar os ecos das opiniões do sr. Setzer.
A julgar pelo impacto que ele causou a impressão que ele passou é de total desconhecimento do que é Internet. Ele parece ter parado em meados da década de 90 quando ela era uma infinidade de textos sem possibilidade de interação.
Hoje a Internet é um dos mais vastos campos de exercício de interação e criatividade. Vide, a título de exemplo, o Nóvoa em Folha, o Nepô ou o Lablogatórios, mas a lista seria infinita e selecionei esses por terem sido os primeiros em que pensei. Aliás, não posso deixar de citar o Simbiótica que é uma das mais ricas fontes de informação sobre biologia e começou da paixão de uma portuguesa chamada Curly Girl e sua relação com a Internet.
Outro problema seríssimo da posição que Setzer parece defender ferrenhamente é: o crescimento da Internet é inevitável. Alienar a criança deste processo é como (lembrando de Carlos Nepomuceno) impedí-la de aprender a falar, escrever ou ler livros. E o uso da Internet no Brasil ainda se limita ao telefone: Scraps e MSN (agora recorrendo a Luli Radfahrer). O problema é muito sério.
Enquanto ainda precisamos nos alfabetizar em livros e Saramago grita lá do outro lado do oceando que a Internet veio salvar a palavra escrita que a TV quase destruiu ainda há quem pretenda criar um brasil socialmente analfabeto.
Sim! Socialmente, pois a Internet já se tornou há muito, uma rede de pessoas que interagem debatem e se alimentam de informação e criatividade para construir conhecimento.
Apesar de tudo isso não é difícil apontar problemas no videogame, na tv e na Internet (computador não existe, é apenas um acesso e ninguém discute a importância de uma porta).
A tv tem grande potencial de padronizar nossas idéias e esmagar nossas necessidades individuais como observou o Nepomuceno no primeiro Manhãs Digitais. A propósito toda mídia de poucos para muitos tem esse efeito.
É necessário criar boa programação para a TV, discutir com o jovem o que ele está vendo, desenvolver o senso crítico… A propósito, depois bons pais, nada é melhor para isso do que a Internet…
Videogames podem prejudicar a socialização, potencializar o défcit de atenção em crianças com essa tendência ou até mesmo ser fator de aumento da obesidade (a menos que se trade do Wii hehehe!). No entanto também pode ter um papel crucial no desenvolvimento lúdico e capacidade de abstração sem falar na atenção dispersa que, creio, será uma qualidade essencial ao adulto do futuro diante do constante e incomensurável fluxo de informação.
Isso nos leva à Internet que será a mãe de fantásticos danos causados pelo volume de informação que nossas mentes não estão prontas para processar. Usada como espaço meramente virtual também é um meio para potencialização de perversidades e neuroses auto-destrutivas. Todavia não é tentando ignorá-la que ensinaremos a nossos filhos como lidar com isso! Imagine uma pessoa deparando com a Internet pela primeira vez aos 16 ou 18 anos!? É devastador para um adulto (e pode ser o que aconteceu ao Setzer) imagine em alguém que precisa absorver tudo aquilo em um ou dois anos para acompanhar a Universidade e entrar no mercado de trabalho!
As discussões a que devemos nos ater neste momento é como apresentar a Internet a uma criança, em que idade, como cuidar delas enquanto caminham por lá, como conversar com elas a respeito, como inserí-la no currículo escolar (uma matéria ou uma ferramenta?) e tantas outras questões que ficarão completamente esquecidas enquanto nos debatemos contra o inivitável!
Lembre-se, a Internet não está inventando nosso mundo, nós a inventamos porque nossa evolução pede por ela para que possamos dar novos passos como uma provável hiperdemocracia.
Então Roney. ele propõe que as crianças não cheguem perto de Tv até os 7 anos e os jovens fiquem longe da web até os 17! Esta foi, majoritariamente, a razão da chiadeira.
Baseado nos conceitos do Steiner (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rudolf_Steiner) ele chegou a estas conclusões – pelo que entendi no meio da confusão. Foi bom – para talvez a gente se questionar um pouco – e foi ruim – pq não teve adesão, senão de um “pastor” lá no chat. E outras figuras com certo gosto de nazismo e vigilantismo, sabe como?
E, cereja do bolo, “eu uso muita internet. não dou conta de tantos e-mails…”. Pois é! Isso é internet pra ele. Aliás, quem vê o seu site sabe: de 98 ele não passou, parece. Seria um ser interessantíssimo para estabelecer uma conversa. O detalhe: a teoria dele parece que dá certo. O filho é vice-presidente da Oracle. Ainda estou digerindo o tiroteio.
bj
Olá Roney
Boa reflexão. E como sempre estou a me colocar como voz destoante em alguns pontos, rs.
Primeiro preciso dizer que os comentários do twitter não são bom fundamento para procurar a opinião do entrevistado. Infelizmente, as opiniões já nasceram viciadas, não se deram à tarefa de ponderar as opiniões do entrevistado e ficaram em ataques pessoais. Recomendo o contato direto com a entrevista para que as nuances do discurso do Sr. Setzer sejam percebidas.
Concordo que o Sr Setzer tenha sido radical em alguns pontos, e o próprio afirmou isso em determinado momento dizendo ter sido “opção particular”. Sua experiência pessoal lhe deu base para dizer que o afastamento de determinadas tecnologias de modo algum prejudicou o desenvolvimento de seus filhos e dele próprio: antes, todos se deram muito bem no convívio social e um deles entrou para o campo da tecnologia (salvo engano). É certo que não se pode fundamentar toda uma idéia a partir de uma única experiência pessoal; contudo, não se pode deixar de levar em conta o sucesso dessa experiência e a partir dela refletir as nossas.
Me chamou atenção o fato dele trabalhar na área de Ciências da Computação e não ser um ávido entusiasta da tecnologia. É um crítico, sim ferrenho, de sua própria área de atuação e que, para estranhamento da maioria, inclina-se para apresentar os malefícios daquilo que lhe rendeu representatividade. Uma ousada posição a meu ver e de modo algum incoerente: ele pisa em terreno que caminhou.
Diferente do que se apresenta no twitter, e que para mim se parece ser, o ponto do Sr. Setzer foi “a tecnologia faz mal ao desenvolvimento cognitivo quando usada em idades inadequadas”. Achei radical demais, e penso que os amantes da tecnologia e eu também (que apenas flerta) ficariam satisfeitos se fosse defendido que “(…) se usada de modo equivocado e exagerado (…)”. Foi a ausência dessa flexibilidade que gerou toda a balburdia.
Duas foram as bases da idéias do Sr. Setzer: 1) os aparelhos (no caso tv e monitor) causam malefícios psíquicos ao não estimular o processo cognitivo, mas forçando a passividade física e mental, como ele demonstrou apresentando e indicando fontes que o corroboram. O impacto não é tão grande nos adultos, porém, nas crianças que estão em processo de desenvolvimento isso é altamente prejudicial. Ninguém rebateu ou questionou esse ponto, esse que foi o principal argumento do entrevistado. Setzer defendeu sim o “banimento” da tv e computador, principalmente nos primeiros anos do desenvolvimento infantil, apoiado em teorias de psicologia do desenvolvimento largamente aceitas, e quando questionadas, a resposta pareceu satisfatória aos debatedores visto o fim das considerações sem interrupção externa. O exagero de Setzer se deu quando apresentou sua opinião pessoal de que a idade adequada para a introdução desse meios seria a partir dos 17 anos. Sim, exagero, que depois o próprio entrevistado arredou quando disse que a exposição a tais meios deve ser limitada enquanto a criança e o jovem não tenham maturidade suficiente para se auto-regular e evitar os malefícios.
Outro ponto (2) foi sobre os conteúdos dos meios. Mas isso é consenso entre a maioria de nós, seja no que toca a qualidade, seja no fato da necessidade de maior vigilância e educação das crianças e jovens a encontrar os melhores conteúdos. Aí não teve discordância.
O texto se alonga e deixo minhas impressões. 1) Muitos chamaram o Sr. Setzer de retrógrado. Não o vejo assim. Ele mesmo afirmou que o passado não volta. Sua posição a meu ver denota algo que nos falta, uma simples pergunta: como estamos caminhando e quais tem sido os efeitos disso? Ele ousou não apenas refletir e pesquisar, mas arriscou viver de um modo que procura demonstrar que a necessidade da tecnologia em nossa sociedade não parece ser tão real assim à vida. 2) Setzer não é anti-tecnologia. Foi réu confesso de usar internet e ter televisão em casa. Facilidades sim; dependência ou necessidade, não. Não achar necessário não implica ser contra. Na visão dele, é contingente. 3) Durante a entrevista, lembrei muito do mote da palestra do Blikstein no Descolagem: tecnologia na educação implica em saber usar a tecnologia como meio para a educação. Não é ela quem vai resolver, como não resolveram as tecnologias do mimeografo, fotocópia, laboratórios de ciência, retropojetor, etc. 4) Os adultos querem montar para as crianças um mini-mundo adulto. Senti muito o mal-empregado sarcasmo na charge do Caruso http://tinyurl.com/6qjcrd Somos os adultos, elas as crianças, e cada um tem seu “mundo” para ser vivido em seu tempo determinando e estímulos a serem cultivados psíquica e neurologicamente.
Abraços
Só posso assinar embaixo. Também acompanhei os “reflexos online” desta tal entrevista. Seu texto, independentemente da posição do sr. Setzer, está perfeito e serve para qualquer um que ainda ache a internet um monstro maligno de 3 cabeças, 17 patas e 2 caudas (longas, óbvio!) Muito bom o link com o que Luli e Nepô disseram ultimamente. Perfeito. Parabéns!
Olá, Roney e Rafael,
Infelizemente não terei tempo para comentar todos os pontos levantados. Peço encarecidamente que leiam artigos em meu _site_, pois encontrarao respostas a muitas das questoes abordadas, e poderão comentar minhas idéias com mais objetividade. Com relação ao programa de ontem, saí muito frustrado por não ter abordado aspecos fundamentais. Deixei, por exemplo, de pegar a deixa da Lílian do efeito condicionador da TV e falar ddo casamento perfeito entre TV e propaganda, e do papel do Instituto Alana de tentar evitar propaganda dirigida para crianças. aaaaaaaaaaaaaaaaaaa, VWS.
Gostei, Roney.
Totalmente de acordo com você.
Acompanhei a fala do Setzer ontem, torcendo, aliás, para que ele tivesse algum argumento bom para dar base a seus pontos de vista, mas esses argumentos são muito fracos (e entendo que o Rafael, do comentário acima concorda com isso).
Já tinha escrito na última quinta um post sobre isso http://discursocitado.blogspot.com/2008/11/demonizao-da-internet.html
Uma única vez fiz um curso de informática: era só uma tarde, no IME-USP, para aprender a utilizar o Telnet, BBS, e aquelas formas de acesso que estavam disponíveis para poucos em 1993. Metade do tempo foi ocupada por uma palestra do Prof. Setzer, falando sobre o “monstro” de estavamos nos tornando amigo. E veja, só havia maiores de idade, presentes. Impressionante.
abço
A Denise Rangel tb escreveu um post sobre as idéias do Setzer.
Adorei a citação 🙂
Quanto à questão que você levanta, imagino que nos tempos de Guttemberg alguém deve ter dito “afastem as crianças dos livros!”. Respeito a opção dele, que certamente tem sua pertinência, mas esse tipo de educação restritiva me parece autoritária, é tentar impedir uma pessoa de viver em sua época. Como mãe de pré-adolescente que sou, prefiro pensar em incluir outras atividades e oportunidades, pra que a tv e o computador não sejam as únicas fontes de entretenimento.
Uma palavrinha à Christiana. Platão já tinha sido contra os livros. E com uma certa razão, pois a escrita acompanhou a decadência da memória, que era extraordinária na antiguidade remota. Hoje, com nossa fraca memória, a escrita é uma necessidade. A propósito, um texto escrito é a forma de comunicação que mais preserva a liberdade do receptor, que pode ler do jeito e no ritmo que se quiser (é impossível ouvir e ver do jeito que se quer, como é o caso dos rádio e da TV). Quanto a ser restritiva, você, como mãe, já é altamente restritiva, e autoritária, pois sabe (ou deveria saber) o que é prejudicial para seus filhos, e o evita. Por exemplo, você dá revistas eróticas a eles? Certamente não. Isso é autoritarismo justo, é censura justa. A educação libertária de hoje em dia está produzindo cada vez mais problemas de comportamento e de aprendizagem. Infelizmente, as tradições de como educar os filhos perderam-se, e foram substituídas por psicologismos baseados em teorias abstratas, e não na realidade do que é o desenvolvimento infantil e juvenil. Leia meus trabalhos, e aponte objetivamente onde estou errado, para que eu possa mudar. aaaaaaaaaaaa,
Gostaria de acrescentar ainda uma coisinha: por favor, não se baseiem na entrevista do Roda Viva para conhecer minhas idéias. Por exemplo, não sei se perceberam, mas eu fui interrompido muitas vezes, não podendo completar raciocínios (por exemplo, não cheguei a falar do 3o. setênio (14-21 anos mais ou menos, cujo conhecimento é essencial para se colocar adequadamente a faixa etária adequada para um jovem usar um computador (devido ao fato de este forçar um pensamento lógico-simbólico). Vejam, por exemplo, minha entrevista de 12/11/08 à TV Jovem Pan Online, em
http://jovempan.uol.com.br/jp/media/online/index.php?view=20578&categoria=149%20%20
que ficou ótima; para minha supresa, deixaram-me falar à vontade (se eu tivesse sabido disso, teria preparado um roteiro…). Se perderem o endereço, deem uma googlada com
setzer “jovem pan”
E leiam meus artigos em meu site, pois o texto escrito é o meio de comunicação que mais preserva a liberdade do receptor, permitindo muito mais reflexão.
aaaaaaaaaaaaaa, VWS.
Excelente reflexao.
Vi trechos do programa e li um dos ultimos textos do Setzer no site dele.
Reconheco que ele tem um mérito: sustentar uma discussao critica sobre computadores e criancas, pois nossa cultura é muito encantada com novas tecnologias em qualquer area. Tendemos, com povo-classe-média, a aceitar de modo acritico o que grandes empresas (como a Micrsoft), nos vendem a preços exorbitantes, tornando o produto obsoleto dentro de pouco tempo e nos vendendo algo novo a cada ano.
Mas fora isso, considerando as aprox tres décadas em que o prof. Setzer vem batendo na mesma tecla, ele pareceu-me cada vez mais alienado; lembrou-me uma dessas curiosidades intelectuais que a gente só encontra na universidade.
Nao é demais lembrar que qdo ele comecou seu discurso do-contra nao havia internet.
Ele é um profissional respeitado na propria area (Estatística), mas tentou obter fama numa area onde nao tem formacao (Educação), não tem experencia de pesquisa em escolas, não convive com a comunidade da area, etc.etc.
Além disso, utilizar a ideologia em primeiro lugar, ignorando um principio elementar da boa ciencia. As ideologias que ele utiliza – Steiner, Waldorf – nao teem eco na pesquisa educacional. Sobre desenvolvimento intelectual, Piaget e Vygotsky tem muitissimo mais estatura e pesquisas sugsequentes que os aprofundaram. Tb Wallon e outros no tocante ao desenvolvimento emocional, social.
Usar exemplos da propria familia nao é suficiente. O fato de ter um filho (ou mais) bem sucedidos nao é prova do proprio pensamento. Sabe-se que sao muitos os fatores que interagem no desenvolvimento de uma pessoa. Tb poderiamos afirmar que se os filhos tivessem tido mais contato com computadores talvez fossem mais brilhantes do que sao…
Poderiamos continuar, citando outros casos fora do comum, como os Amish nos EUA, filósofos da tecnologia que sao “contra” e “a favor” etc. Mas ficamos por aqui.
Nossa, como é complicado aliar-se a um ou outro ponto de vista dos aqui citados.
Ser contra ou não ser contra.
Temos que pensar na criança, totalmente nela, não em se meus argumentos serão melhores, mais fundamentados… e blablablá.
Acho que a tv e computador, prejudicam-se as crianças, claro que com o seu uso exacerbado, ou cedo demais.
Querendo ou não, essa nova geração terá acesso às novas tecnologias antes dos 17 anos, porém, acho que na escola, ele não precisa vir antes.
Até pq, na aprendizagem existem outras formas muito mais lúdicas e interessantes que o computador, por exemplo, aprender ciências fazendo uma horta, participar de todo o processo de desenvolvimento das plantas… as crianças amam.
Como alguém já citou acima, queremos fazer das crianças adultos em miniaturas, nós deduzimos hipoteticamente que as crianças “necessitam” estar inseridas nesse meio digital, para estarem inseridas na sociedade.
Balela, pois, o que precisamos ensinar de verdade as crianças, é o valor das relações pessoas, carne a carne, o respeito…
Uma crianças com base cognitiva, criatividade estimulada e uma capacidade de pensamento abstrato bem formados, em questão de “segundos”, se apropriará da internet, do meio digital, além do que, ao aprender a usar dessa ferramenta ela já estará subsidiada nos seus estudos anteriores, de como usar desse meio em beneficio próprio e em prol da sociedade.
RET
Acho que a tv e computador, prejudicam, sim, as crianças, claro que com o seu uso exacerbado, ou cedo demais.*